terça-feira, 31 de março de 2009

A dialética da manipulação midiática/novelas

É necessária a devida reflexão no que concerne como se concebe manipulação. É preciso conceber manipulação de forma esclarecida, que com certeza não se trata de reproduzir o conformismo, engolir o senso comum que nos coloca como seres manipulados. Apenas ter conhecimento da própria situação, enxergando apenas os efeitos, ignorando as causas, não leva ao esclarecimento de fato.
Em relação à mídia, ser esclarecido não se trata apenas de saber quem manipula ou quem está sendo manipulado. Torna-se necessário destrinchar todas as causalidades, o modo em que ocorre o processo. Apenas identificando os pontos de contagio, para posteriormente negá-los, será possível que se comecemos a nos transformar em fantoches esclarecidos, mas ainda fantoches.
Trazendo para o tema em questão, ao manipulado esclarecido, torna-se necessário entender como as novelas (principalmente as globais) buscam através da exacerbação dos adjetivos controlar a ordem social, que se aproxima daquela ordem positivista de Kant e Durkheim. Atribuir aos personagens características extremistas, faz identificar-nos como seres não influenciados (ou pouco influenciados), não seduzidos. Os humanos gostam de se espelhar nos extremos, no quase fantasioso, é como um anestésico. A demonstração da realidade através de pontos extremos faz-se como uma deliberada manipulação de valores, mas com a máscara da corajosa perspectiva de denunciar as mazelas da sociedade.
Dessa forma, a demonstração dos problemas que afligem a sociedade constitui (nesse caso) uma forma de esconder-los. O extremo mal caratismo, a extrema futilidade, ou até a extrema bondade, nos faz sentir seres neutros a todo esse processo, mas ao mesmo tempo nos identificar como pertencentes de anticorpos contra todas as tentações mundanas. Mostrar um sujeito extremamente fútil, e arrasá-lo durante todo o enredo, funciona como um mantenedor da futilidade social, ao fazer com que os indivíduos se identifiquem como livres desse problema.
Sendo assim, autores conhecidos por sua audaciosa proposta de expor os problemas sociais, como Manuel Carlos, tornam-se agentes responsáveis pela reprodução e obscurecimento desses mesmos problemas. Se não exacerbado de forma irresponsável, esses problemas são mostrados de forma deturpada ou limitada, escondendo pejorativamente a realidade dos fatos.
A manipulação dos valores e da ordem também acontece sob forma da transmissão dos mesmos através de adjetivos condutores. Ou seja, as características dos indivíduos bons de caráter contagia os tele espectadores de maneira sutil, quase inconsciente. Identifica-se no “bom” as características do que o torna bom de fato. Ao aceitar o que é positivo (socialmente aceito) num primeiro momento, condena-se a aceitar em um segundo momento que as características do ser positivo são também positivas.
Dessa maneira, identificando esses vírus e dialeticamente constatando suas contradições inerentes, torna-se possível se deslocar da posição de simples manipulado para a posição de manipulado esclarecido. Utilitariamente toda essa discussão não tem valor algum, mas como à luz da dialética o utilitarismo constitui um instrumento de dominação e manutenção do que está posto, talvez torna-se necessária toda essa “masturbação” filosófica.

Rafael Almeida – Feira de Santana-BA

Um comentário:

  1. Muito bom... Novela é uma praga, as pessoas viraram marionetes. Hoje em dia os fatos estão bem mais explícitos e as pessoas mal podem enxergar... Uma universitária é expulsa do instituto por não usar uma indumentária adequada e se insinuar obcenamente e a Globo dá total apoio a esse atitude. Posteriormente, vários atores em suas novelas passam a usar a mesma indumentário. Bastaram alguns meses e todas as jovens passaram a andar com saias que não cobrem a intimidade... E ninguém nota a manipulação...

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