domingo, 14 de novembro de 2010

A síndrome saudosista na música


Síndrome saudosista na música é a valorização inerte daquilo que é antigo nesse campo. Valorização inerte porque é uma valorização que não está pautada em um conteúdo que a explique. É como se a música fosse um vinho, quanto mais velha melhor fica.

É preciso cuidado ao dizer que algo na música, ou algum estilo musical têm piorado, discurso esse utilizado corriqueiramente por pessoas mais velhas. Realmente em alguns aspectos a música tem piorado, mas de forma genérica, falar desse processo requer uma análise mais racional e menos tendenciosa.

Lembro-me de certa vez que estava com um tio meu em um réveillon, onde tocava uma banda que tinha um repertório formado principalmente por marchinhas de carnaval. Então ele disse: ”Isso é que é música de qualidade, música de alto nível, e não essas coisas que vocês escutam hoje em dia!” Hã? Que? Marchinha de carnaval é música de alto nível? “Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar, dá a chupeta, dá a chupeta, dá a chupeta pro neném não chorar ... ”; “Ei, você ai, me dá um dinheiro ai, me dá um dinheiro ai ... ” Essas e outras eram as marchinhas que estavam tocando lá, músicas com um padrão rítmico extremamente quadrado, letras minúsculas e repetitivas, e melodias de fácil assimilação ao extremo. Além do total empobrecimento técnico, as marchinhas não apresentam um enraizamento cultural forte, diferentemente do samba, elas surgiram na Europa, e foram trazidas para o Brasil de forma copiada (tendo como uma das principais precursoras Chiquinha Gonzaga) em um primeiro momento, depois houveram adaptações em relação à cultura brasileira (carioca principalmente). Então não há motivo para achar que as marchinhas eram músicas de alto nível, ou que eram melhores em termos de qualidade em relação às músicas populares dos dias atuais, que são tocadas nos carnavais. Eram músicas de carnaval, voltadas muito mais para o entretenimento do público do que para qualquer outra coisa.

Não apenas nesse campo, mas no campo do rock a síndrome saudosista é muito freqüente. No nosso caso, existe uma hiper-valorização do “rock” brasileiro dos anos 80, em detrimento do rock atual, mas não apenas nesse sentido estrito, em detrimento da música jovem atual. É necessário entender 2 coisas nesse aspecto, 1º que muitas das bandas dos anos 80 taxadas como rock nem pode possuir tal rótulo, muitas delas eram pop, outras pop-rock, a titulação nessa época era algo complicado e muitas vezes até ridículo. Outra questão é que as produções artísticas são datadas, existiu no Brasil (sobretudo em Brasília) um movimento de bandas com letras de protesto porque passávamos por um processo de redemocratização, então existia um contexto histórico particular. Não vai mais haver outro movimento como aquele, da mesma forma que nunca mais vai existir tropicalismo, ou arte grega. Foi uma época também em que a atitude me parece ter sido mais importante do que a qualidade das obras, era “proibido” ter um vocalista bom no Rock Brasileiro dos anos 80, Titãs, Plebe Rude, Kid Abelha, Camisa de Vênus, Paralamas, Barão Vermelho (Cazuza), dentre outras, tinham péssimos vocalistas, poucas bandas se salvavam nesse aspecto. Sem falar que boa parte dessas bandas eram grosseiras na estética, transparecendo uma total preocupação com as letras. Então não é que piorou a música jovem ou o rock brasileiro, é que houveram mudanças. Por exemplo, no século XXI passou a existir aqui um movimento alternativo muito interessante, de bandas como Los Hermanos, Teatro Mágico, Vanguart, O Círculo, etc. É um movimento que tem tomado uma densidade bastante representativa, onde as bandas misturam samba, Indy, bossa nova, rock, dentre outras vertentes, com letras que falam basicamente de cotidiano. São bandas de bastante qualidade, geralmente não tem característica de protesto, mas são riquíssimas em melodia, harmonia e arranjos, coisa que faltava nas bandas mencionadas dos anos 80, que eram muito mais quadradas.

Então deve-se ter bastante cuidado ao dizer que a música brasileira no geral ou na música jovem tem piorado, cair no discurso de que a música de protesto é melhor que a música que fala de amor ou cotidiano é algo absurdo e chulo. Até porque existem protestos que nem mereceriam serem feitos, de tão clichê e rasos que são. Involução/evolução e mudança são coisas completamente diferentes, mas corriqueiramente confundido por muitas pessoas.

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2 comentários:

  1. velho acredita que eu acabei de ver um clipe de R.P.M , ai analisava a letra, e cara , comecei a analisar tambemo contexto da época, as musicas falavam de revolução(camufladamente)eram da época das diretas já, reforma constituinte, então,tudo haver com sensacionalismo. Hoje em dia estamos num contexto neoliberal,onde o padrão é o individualismo exarcebado, então o que os adolescentes acham de mais reelde, revolucionáriopra hoje, vai ser o suceso,ai surgem nomes como restart, as bandas americanas que enchem a cabeça da gente ,de vento,huashusahu, enfim,essa é minha opinião , o que toca na época , é o que a industria cultural dessa,exige,o negocio é vender, se baseando na identidade atribuida aos jovens, pelo capital. essa é uma visão é analítica, minha,não pense que estou me referindo a uma regra geral,até porque nem todo mundo está se coagindo pela industria cultural(generalização é burrice)

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  2. oi.gostei muito do vidios
    que vi achei de mais so eu patriçia que eu ti conheçi por telefone queria muito tir ver mim liga

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