“Modelos econômicos não explicam a realidade!” “Modelos são reducionistas!”. Se você é economista ou estudante da área, provavelmente já escutou frases desse tipo. Eu já escutei muito, e toda vez que acontece sinto vontade de dar “tapa ôi” no sujeito. São frases emitidas principalmente por quem estuda economia e tem dificuldade com matemática, ou por estudantes de economia esquerdistas. Também é usada por sociólogos e antropólogos, que meio que estabelecem uma rivalidade imbecil com os economistas (e vice versa). E tem também os historiadores, que acham que a história explica qualquer coisa.
Pois bem, usarei um conceito de um clássico da sociologia para explicar os modelos econômicos. Para Max Weber a realidade é irracional, é constituída por um “emaranhado” de ações sociais, sem direção comum. Portanto, a realidade é impossível de ser apreendida (explicada) em sua totalidade. O que os cientistas sociais fazem é racionalizá-la, através do que ele chama de “Tipos ideais”. Tipo ideal nada mais é do que selecionar um conjunto de ações sociais que me permita estabelecer um raciocínio a respeito de um fenômeno, para tentar explicá-lo. É exatamente por isso que o mesmo fenômeno pode ser explicado de diversas formas. Os modelos econômicos são passam de tipos ideais, uma racionalização da realidade irracional, portanto reducionismo, uma tentativa de apreensão do inapreensível.
O economista trabalha com um alto grau de objetividade, por isso seu nível de redução também é alto. Para estabelecer um raciocínio coerente precisa deixar à margem do modelo diversas variáveis. Mas qual a vantagem disso? A vantagem é que é melhor ter uma explicação (ainda que limitada) do que não ter nada. Para melhor entender como raciocina um economista, vamos tratar de algo bastante irracional e subjetivo. Por exemplo, traição. O que leva um sujeito a trair? O que determina uma traição? Essa com certeza é uma pergunta sem resposta, mas um economista pode ajudar nisso, fazendo suposições e eliminando algumas variáveis. Vamos ver?
Quem trai, o faz para maximizar seu bem estar, ainda que haja remorso ou risco de ser pego. Nesse sentido, vamos usar a fórmula de lucro para fazer uma abstração:
L = R – C
L – Lucro
R – Receita
C – Custo
A receita seria a utilidade (bem estar) proporcionada pela traição, o custo (desutilidade) se dividiria em remorso (que é fixo) e o sofrimento causado por uma possível descoberta por parte da(o) parceira(o) “legítima(o)” (variável, dependendo do risco de ser pego). Chegaríamos então à seguinte equação:
L = R – C1 – bC2
Onde,
L = Saldo
R = Utilidade (prazer, bem estar)
C1 = Custo do remorso (desutilidade, fixa)
C2 = Custo do mal estar (desutilidade) em caso de descoberta (depende do risco)
b = Coeficiente de risco (entre 0 e 1)
Se no final do cálculo der L > 0, valeria a pena a traição. Supondo valores para ilustrar, pode-se ter:
L = 10 – 5 – 0,3 (10)
Nesse caso a pessoa acharia que vale a pena trair.
Esse modelo é uma redução da realidade, obvio. Existe uma dificuldade imensa de mensuração desses valores. Mas se o sujeito conseguir propor mensurações, como: O prazer é o dobro do remorso e o risco é mínimo, esse cálculo poderia servir para alguma coisa. Mesmo que seja impossível utilizá-lo no mundo prático, ele pode servir ao menos para ajudar a entender a realidade.
Os modelos são a melhor forma para se chegar à realidade de forma racional, mesmo partindo da completa subjetividade (como no exemplo citado). O mundo precisa de respostas objetivas para algumas questões, criticar os modelos não vai ajudar em nada nesse aspecto. Em vez de criticar, crie um modelo melhor, contribuirá muito mais.
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