Hoje é o dia do autoengano,
de exaltar o trabalhador enquanto classe, como se nós estivéssemos
estagnados na história. Como se o mercado de trabalho fosse como na época da
revolução industrial, onde existia uma oposição clara entre trabalhadores X
capitalistas, em que os patrões (capitalistas) em sua grande maioria eram
sujeitos socialmente privilegiados.
O capitalismo se
desenvolveu: passou por crises; se reinventou; se tornou mais racional. As
fórmulas estão em constante mutação. O modo de acumulação não é mais o mesmo e,
o próprio estado não tem mais o mesmo papel que outrora.
Frente a todas essas
mudanças, a final, quem são os trabalhadores? Será que todo trabalhador é
oprimido pelo sistema? Será que todo patrão é um privilegiado que nunca
precisou arregaçar as mangas?
O mundo do trabalho está
cada vez mais multifacetado e complexo, definitivamente não podemos mais nos
referir ao trabalhador como algo uníssono, de necessidades e perspectivas
similares. Também não podemos mais nos referir aos empregadores como sinônimo
de capitalistas. A quantidade de empregos formais no Brasil hoje totaliza cerca
de 48 milhões. Desse total, aproximadamente 15 milhões são oferecidos por micro
e pequenas empresas, e 12 milhões pelo serviço público. Significa dizer que a
maior parte dos trabalhadores não estão empregados em entidades privadas de
grande porte. Ou seja, os capitalistas não são os maiores empregadores.
No mundo capitalista é
difícil um sujeito sair do nada e chegar a ser um Mega Empresário, existem
casos, mas são raras exceções. No entanto, é bastante comum o sujeito deixar de
ser empregado para ser empreendedor. De modo geral, o micro empresário brasileiro
está bem longe de ser privilegiado, e as estatísticas vão nessa direção: 48%
das micro e pequenas empresas fecham as portas em 3 anos de atividade. São
essas as empresas que mais empregam no país, juntamente com o estado. Em grande
parte, as pequenas empresas tem como proprietários, indivíduos que trabalharam
muito para conseguir essa pequena ascensão. Isso quer dizer que uma grande
parte dos patrões brasileiros são também trabalhadores, e consequentemente,
grande parte dos trabalhadores tem trabalhadores como patrões.
Além disso, as próprias perspectivas
dos trabalhadores se tornaram bastante distintas. Hoje existe aquilo que se
pode chamar de trabalhador “elitizado”, que faz parte tanto da burocracia estatal
quanto do setor privado, e angaria rendimentos relativamente maiores.
Executivos, gerentes, auditores fiscais, juízes, economistas, desembargadores,
médicos, dentistas, acadêmicos, engenheiros, burocratas em geral, dentre
outros. De modo geral, esses não compactuam com o mesmo sentimento de classe de
um operário. Alguns deles inclusive nem mesmo se sentem trabalhadores, basta
observar a reação de diversos professores universitários quando lhes pedem para
praticar o protocolar ato de bater o ponto. É a chamada classe média.
Não faz sentido então hoje
em dia enxertar um teor ideológico na palavra “trabalhador”, como se isso
representasse um sentimento comum, um coro. O que vemos é que a “classe trabalhadora”
está cada vez mais fragmentada, o reacionarismo não parte somente das classes
dominantes, parte também de trabalhadores, que conseguiram alcançar a metade da
escada e se acham superiores aos que estão lá em baixo. E nesse meio existe inclusive
aqueles que fingem se importar com os que estão lá em baixo, são exatamente
aqueles que se dizem comunistas e fazem greve para aumentar seu salário de 8
mil por mês, porque ele estudou, se esforçou, e 8 mil é pouco, é uma miséria, o
governo tem que dar mais. Mas e o comunismo? Deixa para a mesa de bar e para o
facebook ...
empreendedorismo é o que há
ResponderExcluir