O ódio aos nordestinos que torcem para times do sudeste tem se agravado nos últimos anos. Em 2014 torcedores do Flamengo foram agredidos por torcedores do América-RN, exatamente por esse motivo. É necessário compreender que no mundo inteiro existe concentração de torcida. Ninguém é obrigado a aderir a qualquer tipo de ativismo.
Vargas Llosa em "A Civilização do Espetáculo", associa a prática de torcer por um time determinado de futebol, à oportunidade de exercer no espaço das arquibancadas os instintos humanos mais primitivos e beligerantes. Concordo com ele nesse ponto! A noção de etnia e território estão entrelaçadas quando se trata da identidade de determinado coletivo, neste sentido, dado o crescimento exponencial da identificação das torcidas com o território o qual determinado time representa, dá uma intuição sobre as motivações para o surgimento, ou mesmo a agudização, desse problema nos últimos anos. Os grandes clubes do sudeste sempre tiveram à sua disposição a máquina de propaganda da imprensa nacional com sede lá. Isso explica em grande parte o número de torcedores de clubes como Flamengo, Vasco, Corinthians Paulista e Palmeiras, para citar alguns exemplos.
ResponderExcluirO crescimento dessas animosidades, embora o torcedor comum não necessariamente perceba, tem a ver com a apropriação do sentido de território pelo futebol e não há como ignorar: é principalmente ideológico!
Vejo isso com certa alegria, além da evidente preocupação, pois revela que o nordestino, para usar seu exemplo, tem se apropriado de seus traços culturais únicos, irreprodutíveis, passando a incluir nessa noção regional o futebol que, inegavelmente, é parte indissociável da cultura nacional.
Entendo o ato de torcer como mergulhado em mistério, pois não raro é usado para imprimir uma certa ideia de superioridade de um indivíduo em relação ao outro. Ora, mas qual a contribuição que um ou outro dá ao seu clube além do simples fato de torcer, que por natureza é uma escolha individual? Como justificar a opção por determinado clube, em nada identificado com a região, a cultura, a economia, o indivíduo, enfim? Acho natural, até certo ponto, que o processo de apropriação do futebol como parte da identidade regional de um povo, adquira a percepção de certa estranheza em se fazer a escolha por uma "tribo" estrangeira. Estranheza contra o indivíduo que numa "batalha" escolhe o lado do exército estrangeiro como o Judeu Nazista, personificado em "O Crente".
Com o tempo esses indivíduos vão se tornando cada vez mais raros, certamente os meus filhos não sofrerão ao lado dos cariocas do Vasco da Gama, de costas para EC Bahia, Vitória, CRB e ASA de Arapiraca. Mas isso nunca pode ser usado como argumento para justificar violências contra a liberdade de escolha, diga-se.
Aguardo cenas dos próximos capítulos!