Durante minha vida acadêmica
tive um contato forte com a parte mais subjetiva da ciência humana, sobretudo
quando mudei de área e fiz mestrado em ciências sociais. Nesse percurso, pude
notar um discurso pedante e de certa forma ingênuo por parte dos profissionais
da ciência social. Esse discurso não traria maiores prejuízos
para a sociedade se seus desdobramentos não ultrapassassem os limites da
academia. Mas infelizmente, tem servido de subsídio para doutrinar concepções a respeito de certos fenômenos.
Implicitamente ou
explicitamente, antropólogos e sociólogos de modo geral tem uma tendência forte
em subestimar, ou até mesmo idiotizar, pesquisas biológicas a respeito do
comportamento humano. É um comportamento egocêntrico e ignorante. Na maioria
das vezes não é um posicionamento assumido, mas fica muito claro nos discursos
proferidos. “A sociedade explica o comportamento humano”. Esse é o mantra da
ciência social. Qualquer opinião baseada em estudos biológicos é rechaçada, e
até mesmo ironizada.
Esse tipo de discurso é
simplório e não passa de preconceito científico, muitas vezes forjado de liberdade de pensamento. Até certo ponto é
compreensível, mas ao mesmo tempo, bastante perigoso. Existem ideologias que
estão sendo alimentadas por esse discurso revanchista contra a ciência natural.
O feminismo é um exemplo claro. Experimente dizer a qualquer feminista que
determinado comportamento de gênero pode ser explicado por diferenças
hormonais, por exemplo. Acontece que pesquisas sérias mostram que diferenças hormonais
podem explicar comportamentos de gênero distintos. Além do fator hormonal, a
constituição cerebral é outro elemento importante. Rechaçar esse tipo de
pesquisa é preconceito científico.
Eu tenho pena do biólogo que
resolver publicar algum artigo tratando de diferenças comportamentais entre
raças diferentes. Coitado! A depender da constatação da sua pesquisa, a reação será
trágica.
A ciência social não é
neutra, a própria escolha do objeto de pesquisa está imbuída de valores. Toda
pesquisa sociológica é também reducionista, pela própria natureza da ciência.
Porém, o que noto é que os cientistas naturais tem uma facilidade maior em
aceitar explicações sociológicas, do que o contrário. Existe uma aversão à
ciência natural que precisa ser superada. Isso é irônico, pois a turma das
ciências sociais é justamente aquela que se auto intitula “aberta”, “progressista”,
etc. Na prática, muitas vezes se comportam como cientistas enclausurados, que
querem impor limites à ciência, com o chicote da ideologia na mão.
Como cientista, estou aberto
para a diversidade de possibilidades e explicações, e gostaria que todos
estivessem. Sou ignorante em matéria de genética e, de modo geral, sei muito
pouco a respeito de pesquisas biológicas sobre comportamento humano. Gostaria
que todos os cientistas sociais tivessem a humildade de admitir que não
conseguem explicar o comportamento humano em sua totalidade, pois ninguém é
capaz de explicar. Mas isso está longe de acontecer, e Weber se debate no
túmulo.
Fazia tempo q não lia o blog. Sempre gosto dos teus posicionamentos e, como sempre, discordo bastante. Você esqueceu de mencionar que as ciências sociais sofreram e (ainda) também sofrem o q vc denomina "preconceito científico". Há nos dias de hj uma relutância quase religiosa em aceitar uma ciência que não se encaixe nos moldes positivistas de pensar a ciência. Há tb, como é normal, uma tendência, por parte das sociais (in short) em tentar refutar aqueles que as destratam e as imputam a noção de "não-ciência". As pesquisas sociais quase sempre são contagiadas pelo próprio pesquisador e pelos demais indivíduos envolvidos nela o que, nas ciências sociais não mais é visto como algo essencialmente negativo. Na mecânica quântica, por outro lado, se pudermos comparar, elétrons mudam seu comportamento pelo mero fato de serem "observados" o que acaba tirando o ideal da imparcialidade. Infelizmente, vivemos uma era onde o dualismo exacerbado (me perdoe o pleonasmo intencional), supera o bom-senso; Um tempo onde as idéias parecem sempre absurdamente antagônicas, mesmo não chegando a tal ponto; Onde parece inaceitável que se possa combinar duas ideias em prol de um bem maior. Em suma, sonho com o dia em que ambas as epistemes juntem forças e ajudem a engrandecer o fazer científico.
ResponderExcluirConcordo. A ciência social também sofre preconceito, embora seja outro tipo de preconceito. De modo geral, é mais fácil pesquisar na ciência natural, pois é uma ciência que evolui através da destruição de paradigmas, pq é possível provar determinados fenômenos. Através da repetição e da reprodução em laboratório eu posso afirmar que estou certo e vc está errado e, portanto, romper paradigmas. Na ciência social, a existência de paralelismo paradigmático é muito mais comum. É difícil eu provar definitivamente que o outro está errado. Muitas vezes, as teorias caem em um mar de subjetividade imenso. Por isso o preconceito.
ResponderExcluirMas não acredito que o inverso, o preconceito tratado no texto, seja uma reação não, até pq acontece por motivo diferente.