Hoje o maior clube do interior da Bahia afundou de vez e, talvez para a eternidade. O Fluminense de Feira vive momentos difíceis há muito tempo e, a “tragédia” de hoje já era anunciada. Em parte pelos problemas administrativos do clube, do outro lado existe também a falta de apoio do cidadão feirense.
Sou flamenguista, todos sabem. Nasci em Jacobina-BA, em uma família de flamenguistas, perpetuei a tradição familiar e ainda criança já amava o clube. Na minha terra natal, torcer para times do Rio e São Paulo é algo bastante comum e, ninguém se importa com isso, até porque faz pouco tempo que o futebol baiano passou a ter espaço na TV aberta. Quando cheguei em Feira, me surpreendi com pessoas falando mal de mim por torcer para time do sudeste, alegando que o futebol nordestino é oprimido pela mídia dominante, bem como pelas condições da formação econômica do país. Essas pessoas alegam que todo baiano, por motivo de afirmação, deve torcer para time da Bahia.
Esse seria um discurso coerente se não existisse futebol no interior do estado, futebol esse oprimido pela mídia da capital baiana (dominante). A Rede Bahia, filiada da Rede Globo, pratica no âmbito estadual o que a Globo faz em âmbito nacional: Exaltar o futebol de sua região (Salvador) e deixar à margem todo o restante. Outras afiliadas como a TV Aratu não ficam atrás nesse processo. O resultado é um verdadeiro ritual de fingimento de que o futebol do interior do estado não existe, ou é irrelevante. É dessa forma que surgem quadros como “Jair e Vicentino”, que nada mais é do que um retrato da polarização do futebol baiano em somente 2 equipes, Bahia e Vitória.
O que me espanta aqui em Feira é a completa falta de reflexão das pessoas que me chamam de “Vergonha da Bahia” e, colocam a camisa de um time da capital. Seria cômico se não fosse tão trágico. Todo mundo sabe o quanto o futebol do interior da Bahia já foi oprimido pela influência política dos times da capital, sobretudo quando se fala do Esporte Clube Bahia, que já ganhou diversos títulos estaduais através de corrupção e politicagem, envolvendo até supostas compras de árbitros (não comprovadas, claro). Foram os tempos de Maracajá. Mas na verdade até hoje é possível verificar beneficiamento ao clube quando o mesmo enfrenta um time do interior. O Bahia tem uma força política enorme dentro do estado, algo que sem sombra de dúvidas sempre impôs barreiras para o crescimento de clubes do interior.
Quando uso esse argumento com alguém que se atreve a me chamar de vergonha da Bahia, geralmente a pessoa fala que estou forçando a barra. Meu caro, se você acha que isso é irrelevante, você está declarando aos sete ventos que o futebol do interior não deve ser levado a sério. Hoje o Flu de Feira “morreu”, mas já estava na UTI há muito tempo. E o feirense, coitado, continuará acreditando piamente que torce para time de sua região.
Sou flamenguista e, hoje acho que racionalmente o correto mesmo é torcer para time da região. Mas futebol é muito mais que razão e, infelizmente já passei da idade de escolher meu time. O Flamengo já faz parte de mim. Só que pelo menos tenho a dignidade de dizer os fatos como eles são, não me escondo atrás de uma frustração camuflada de afirmação, nem finjo que minha verdadeira região é irrelevante para “gozar com o pau dos outros”.
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