sábado, 20 de novembro de 2010

Viva o Busão!!


Ônibus, esse meio de transporte coletivo tão massacrado pelas pessoas. O sonho de boa parte da classe média é deixar de andar de ônibus, existe uma espécie de satanização do ônibus (tá, exagerei, mas é pra dar uma ênfase mesmo ... hehe). Ônibus é tudo de ruim, é apertado, desconfortável, para toda hora, dá 500 mil voltas pra chegar no destino, um povo mal educado, que fede, faz mais calor também quando está lotado, faz zoada com os ferros batendo, isso quando não tem um chato te enchendo a paciência durante o percurso.

Certo, ônibus é uma “disgraça” mesmo. Mas teremos de conviver com ele, não existe espaço nas metrópoles para tantos carros se cada um resolvesse ter um, seria um verdadeiro caus. O ônibus vai continuar existindo, aumentando ou não o acesso pelos carros. Se a frota de carros chegar a um limite insustentável as prefeituras dessas cidades terão de criar formas de desestimular o uso dos mesmos, como pedágio nas avenidas mais movimentadas ou tornar o sistema de rodízio mais incisivo. Então vamos aprender a conviver com o velho busão, e lutar para que seu serviço melhore a cada dia.

Já pensaram nas coisas boas que o busão proporciona? Acho que todo tipo de aglomeração de pessoas é positivo em determinado aspecto. Já pararam pra pensar em quantas amizades já fizeram no busú? Eu já fiz algumas, hoje mesmo fiz uma em um episódio irritante de pegar o ônibus errado, que foi amenizado pela companhia dessa pessoa. Acho que todo mundo tem uma história pra contar derivada de um busú.

A sociedade está ficando cada vez mais individualista com o surgimento das comodidades, as pessoas nem percebem que ao terem um computador em cada quarto elas interagem menos com os familiares, não existe mais aquela reunião no lar pra ver TV, cada qual tem sua TV no quarto. As crianças não brigam mais, isso é um absurdo!! Hoje em dia você pergunta para uma criança como foi sua 1ª briga e ela diz que foi no Street Fighter. As brigas são importantes para as pessoas aprenderem a respeitar seus limites e a entender o lado do outro. A sociedade contemporânea está se tornando cada vez mais egoísta, sem que as pessoas percebam. A perda de interação causada pelas comodidades não é compensada com outras formas de interação, diferentemente dos problemas causados pela comodidade física, que pode ser compensado com academia.

Não estou fazendo uma apologia contra os carros, nem contra a disseminação de computadores, pelo amor de Deus (falo isso pelas experiências passadas aqui no blog de interpretações bizarras)! Faço apenas uma reflexão em relação aos “efeitos colaterais” das comodidades proporcionadas pela sociedade contemporânea.

Então viva o busão!! É um meio de transporte que ajuda na questão da redução de emissão de poluentes, ajuda no desafogo do trânsito urbano e de quebra “força” as pessoas a interagirem mais. Vamos lutar para que seja cada vez mais prazeroso se utilizar desse mecanismo, para que a necessidade de se ter um carro se torne menos gritante.

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domingo, 14 de novembro de 2010

A síndrome saudosista na música


Síndrome saudosista na música é a valorização inerte daquilo que é antigo nesse campo. Valorização inerte porque é uma valorização que não está pautada em um conteúdo que a explique. É como se a música fosse um vinho, quanto mais velha melhor fica.

É preciso cuidado ao dizer que algo na música, ou algum estilo musical têm piorado, discurso esse utilizado corriqueiramente por pessoas mais velhas. Realmente em alguns aspectos a música tem piorado, mas de forma genérica, falar desse processo requer uma análise mais racional e menos tendenciosa.

Lembro-me de certa vez que estava com um tio meu em um réveillon, onde tocava uma banda que tinha um repertório formado principalmente por marchinhas de carnaval. Então ele disse: ”Isso é que é música de qualidade, música de alto nível, e não essas coisas que vocês escutam hoje em dia!” Hã? Que? Marchinha de carnaval é música de alto nível? “Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar, dá a chupeta, dá a chupeta, dá a chupeta pro neném não chorar ... ”; “Ei, você ai, me dá um dinheiro ai, me dá um dinheiro ai ... ” Essas e outras eram as marchinhas que estavam tocando lá, músicas com um padrão rítmico extremamente quadrado, letras minúsculas e repetitivas, e melodias de fácil assimilação ao extremo. Além do total empobrecimento técnico, as marchinhas não apresentam um enraizamento cultural forte, diferentemente do samba, elas surgiram na Europa, e foram trazidas para o Brasil de forma copiada (tendo como uma das principais precursoras Chiquinha Gonzaga) em um primeiro momento, depois houveram adaptações em relação à cultura brasileira (carioca principalmente). Então não há motivo para achar que as marchinhas eram músicas de alto nível, ou que eram melhores em termos de qualidade em relação às músicas populares dos dias atuais, que são tocadas nos carnavais. Eram músicas de carnaval, voltadas muito mais para o entretenimento do público do que para qualquer outra coisa.

Não apenas nesse campo, mas no campo do rock a síndrome saudosista é muito freqüente. No nosso caso, existe uma hiper-valorização do “rock” brasileiro dos anos 80, em detrimento do rock atual, mas não apenas nesse sentido estrito, em detrimento da música jovem atual. É necessário entender 2 coisas nesse aspecto, 1º que muitas das bandas dos anos 80 taxadas como rock nem pode possuir tal rótulo, muitas delas eram pop, outras pop-rock, a titulação nessa época era algo complicado e muitas vezes até ridículo. Outra questão é que as produções artísticas são datadas, existiu no Brasil (sobretudo em Brasília) um movimento de bandas com letras de protesto porque passávamos por um processo de redemocratização, então existia um contexto histórico particular. Não vai mais haver outro movimento como aquele, da mesma forma que nunca mais vai existir tropicalismo, ou arte grega. Foi uma época também em que a atitude me parece ter sido mais importante do que a qualidade das obras, era “proibido” ter um vocalista bom no Rock Brasileiro dos anos 80, Titãs, Plebe Rude, Kid Abelha, Camisa de Vênus, Paralamas, Barão Vermelho (Cazuza), dentre outras, tinham péssimos vocalistas, poucas bandas se salvavam nesse aspecto. Sem falar que boa parte dessas bandas eram grosseiras na estética, transparecendo uma total preocupação com as letras. Então não é que piorou a música jovem ou o rock brasileiro, é que houveram mudanças. Por exemplo, no século XXI passou a existir aqui um movimento alternativo muito interessante, de bandas como Los Hermanos, Teatro Mágico, Vanguart, O Círculo, etc. É um movimento que tem tomado uma densidade bastante representativa, onde as bandas misturam samba, Indy, bossa nova, rock, dentre outras vertentes, com letras que falam basicamente de cotidiano. São bandas de bastante qualidade, geralmente não tem característica de protesto, mas são riquíssimas em melodia, harmonia e arranjos, coisa que faltava nas bandas mencionadas dos anos 80, que eram muito mais quadradas.

Então deve-se ter bastante cuidado ao dizer que a música brasileira no geral ou na música jovem tem piorado, cair no discurso de que a música de protesto é melhor que a música que fala de amor ou cotidiano é algo absurdo e chulo. Até porque existem protestos que nem mereceriam serem feitos, de tão clichê e rasos que são. Involução/evolução e mudança são coisas completamente diferentes, mas corriqueiramente confundido por muitas pessoas.

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