quarta-feira, 23 de março de 2011

Regionalismo Musical


“Você deveria escutar música de sua terra!” Quem nunca ouviu isso? É uma frase que você ou já disse, ou ouviu de alguém, ou escutou alguém falar para outrem. Ela é pronunciada principalmente por pseudo-intelectuais, que se acham cultos porque escutam Tom Zé. Essas pessoas acham que escutar, ou dar preferência a músicas de fora é uma espécie de alienação, de subordinação a outras culturas. Acho isso um tanto engraçado, porque a mesma pessoa que fala uma coisa do tipo, acha bonitinho quando um europeu se apaixona pelo samba, ou pela capoeira, estaria o europeu errado também? Quanto a isso acho importante colocar os pingos nos “is”.

Discriminação musical é algo que existe, não vamos também cair na ilusão de supor que não existe nenhuma resistência em aderir a estilos oriundos da periferia econômica, sobretudo em relação a ritmos africanos (isso em termo global), mas acontece que o mundo está repleto de estilos musicais divergentes, e as pessoas precisam ter a liberdade de apreciar aquilo que quiserem, que se sentirem mais atraídas. E nesse sentido também, supor que nosso gosto musical foi simplesmente formado pela sociedade não passa de outra asneira, o ser humano é uma mescla extremamente complexa de diversos elementos, reduzir todas as suas características de comportamento à influência do meio, para um pseudo-intelectual pode parecer Cult, mas pra mim é chulo ao extremo.

Voltando ao assunto em questão, quando falo de estilos, é necessário entender (ou aceitar) que nós não somos bons em tudo. Independente das causas, o Brasil pode ser o país do Samba, da Bossa Nova, do Forró, Sertanejo, etc, mas definitivamente não somos o país do rock por exemplo, e se for colocar em uma escala, nem entre os 5 primeiros ficaríamos com certeza. A Inglaterra está para o rock como a Brasil está para o samba, não existe rock no mundo que se compare ao rock inglês, e acabou! Beatles, Led Zeppelin, Pink Floyd, Yes, Iron Maiden, Black Sabbath, Rolling Stones, entre tantas outras bandas, fez da Inglaterra o país do rock, e não só em qualidade, mas também na originalidade. E não se trata somente de “dinossauros” do rock, existe um movimento recente no país, com uma sonoridade particular, que alguns chamam de progressivo moderno, de bandas como Muse e Radiohead (de maior destaque), que mantém o país no topo. Então não há o que discutir frente à obviedade, eles fazem rock como ninguém. Na frente do Brasil ainda existem outros países, como EUA, de bandas como Metallica e Kiss. No Heavy Metal moderno os europeus em geral dão uma surra nos sul-americanos, com destaque para a infinidade de bandas alemãs.

Algo que me irrita é ouvir dizer que eu tenho de escutar mais o rock brasileiro, eu não tenho de escutar o rock brasileiro, simplesmente porque o Brasil tem pouca representatividade no estilo. Bandas brasileiras que fazem sucesso lá fora (poucas), como Angra e Sepultura, fazem estilos que não surgiram aqui, o Brasil não exporta rock. O rock genuinamente brasileiro (se é que isso existe, mas ai é outro texto) para o mundo tem o mesmo impacto de jogar um balde d’água no mar.

Preferência é algo completamente diferente de atribuição de valor, ou seja, o problema seria supor que a música de fora é superior à nossa música, nisso sim existe uma subordinação a outras culturas, mas estabelecer preferências é a pura demonstração da liberdade de escolha. Quem gosta de rock então, por razões obvias tenderá a apreciar mais o rock de fora, e não há nada de estranho nisso. Ah .... e eu nem vou falar sobre frases do tipo: “Como você escuta música em inglês? O cara pode tah xingando sua mãe e você não sabe!” Acreditem, existem pessoas com mais de 15 anos de idade que falam isso!

Falei do rock porque tenho mais proximidade com o estilo, mas o argumento vale para outras vertentes, como Blues, Pop, e por ai vai!

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