sábado, 1 de novembro de 2014

Tá todo mundo louco!

Nessa ultima eleição, tornou-se latente no país uma polarização ideológica que vem sendo construída nas mesas de butiquim há alguns anos. Os anti-PT X Os PTistas. É a tradução nacional da Direita X Esquerda. O mais irônico de tudo é que o PT não é direita nem esquerda.

Não sei explicar profundamente sobre esse fenômeno bizarro, mas com certeza um dos condicionantes é a falta de leitura do brasileiro médio.

O Brasil é mesmo um país peculiar, como diria Tim Maia: “Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita” O Brasil é o país das contradições eternas. Por isso que um partido de centro foi capaz de dividir o país. Só no Brasil mesmo ... 

A coisa é tão estranha que em Junho do ano passado aconteceu uma das maiores anomalias políticas do país: reuniram-se no mesmo protesto a turma do PSOL/ PSTU/ PCO e a turma dos eleitores de Bolsonaro. O resultado disso foi uma onda de protestos com uma fluidez tremenda, em que a maioria não sabia nem qual era o motivo do protesto. O episódio ficou conhecido como “O gigante acordou” e, acabou sendo superestimado por todos nós. O que fica cada vez mais claro é que o fenômeno de Junho de 2013 foi o resultado da aglutinação de revoltas individuais. Quem estava revoltado com alguma coisa, aderiu ao movimento inicial, que era contra aumento da tarifa do transporte público. Foi uma onda de protesto Frankenstein. Mais Brasil, impossível ... 

A tensão pós copa exacerbou-se até culminar no pleito para presidente. A eleição dividiu o país entre direitistas anti-PT imbuídos da crença de que o partido dos trabalhadores pretende fazer do Brasil uma ditadura socialista, e os PTistas esquizofrênicos, que ainda não saíram dos anos 80 e acreditam que o PT é o partido dos trabalhadores. Os esquizofrênicos acabaram recebendo reforço de pessoas mais moderadas, por conta da rejeição que se criou em relação ao lado mais reacionário da disputa. O barraco estava armado. 

O PT virou José, o brasileirinho típico. José sacaneou; passou a mão na bunda da vizinha; entrou no ônibus pela porta dos fundos e xingou a mãe. Mas José desenrolou umas treta pra uma galera; ajudou a tia e tem moral na área. Tem uma turma que acha que José pode se tornar uma ameaça à sociedade, defende a morte do garoto em praça pública e a volta da palmatória nas escolas. Por isso os colegas de José, até aqueles que não iam muito com a cara dele, resolveram tomar as dores do menino. Alguns dizem até que José é um garoto formidável e não tem maldade no coração. Enquanto isso José olha para um lado e para o outro e pensa: Só tem louco nessa porra!!

domingo, 27 de julho de 2014

Racionalizando o chororô

Esse texto tem o intuito de racionalizar o chororô e a vitimização do torcedor brasileiro em relação a seu time de coração. 

O futebol não é somente um jogo restrito às 4 linhas, é uma competição que envolve poder político e econômico.

É perfeitamente “natural” apontar para cima quando o assunto é vitimização no futebol brasileiro, só que as pessoas esqueceram de se perguntar se seu time está na base da “cadeia alimentar”.

A máxima que diz: “Time do eixo é sempre favorecido”, não é incoerente, ela só precisa estar contextualizada. De modo geral, se recorrermos à história, perceberemos que de fato os times do eixo (Rio-SP) tendem a serem favorecidos em relação aos times dos outros estados. As maiores polêmicas de arbitragem e de tapetão favorecem times do eixo. Acontece que existe um foco quando se realiza tal afirmação.

Se eu quiser ver o mapa do Brasil no Google Maps, só conseguirei enxergar no máximo os estados. Mas se eu aproximar e quiser ver um estado específico, começarei a enxergar os municípios. O mesmo vale para as relações políticas e econômicas do nosso futebol. O eixo é beneficiado quando o foco é o campeonato nacional, quando “aproximamos a imagem”, enxergaremos os times do interior. Existe futebol no interior desse país, eu juro!

Pergunta ao torcedor do Londrina o que ele acha do Coritiba, e verás que é bem parecido com o que o Atleticano pensa do Flamengo. Se quiser que eu ajude a entender, é só ver o vídeo abaixo.


Essa polêmica foi agravada mais tarde, numa decisão de turno do estadual, em que o juiz deixou de marcar 3 toques  de mão na grande área contra o Coritiba (em um só jogo), todos 3 polêmicos.

Olha o que o torcedor do tubarão pensa sobre os times da capital.
    

Essa é só uma amostra grátis daquilo que acontece nos estaduais pelo Brasil. Aqui na Bahia, todo mundo sabe que para um time do interior vencer o Bahia da capital, precisa derrotar o time e o juiz. Os próprios torcedores mais antigos do tricolor admitem que sem a influência política e sem o apito amigo, o Bahia não teria essa grande quantidade de títulos regionais.

O leitor pode dizer: “Mas quem liga pra estadual?” O time do interior liga, e como liga! O Ituano esse ano foi campeão paulista depois de passar por cima da arbitragem tendenciosa na semifinal contra o São Paulo, e somente a premiação pelo título equivale a 8 meses de folha salarial do clube, fora os ganhos com negociação de jogadores. O problema é que aprendemos a descartar os times do interior por influência da mídia, como se eles servissem somente para encher linguiça.

Agora vamos ampliar a imagem do Google Maps, focando na América Latina, onde só enxergamos no máximo os países. A maior competição do continente é a Libertadores e, não sei exatamente qual o motivo, mas os times brasileiros sofrem muito na competição. Os brasileiros já foram garfados tantas vezes na Liberta que ninguém reclama mais. Existe uma tendência forte em beneficiar times argentinos, uruguaios e chilenos, resta saber qual a razão. Nessa competição os times brasileiros se igualam, todos são roubados. Inclusive os vilões nacionais, Flamengo e Corinthians, já foram garfados de forma histórica (Flamengo contra Cobreloa em 1981 e em 2007 contra Defensor; Corinthians em 2013 contra Boca). Além desses, outros já experimentaram o gosto amargo do apito latino, como Fluminense (o time do tapetão) em 2008.

Em suma, estamos em um país corrupto, que está inserido em um continente igualmente corrupto, em que as relações de poder estão presentes em todas as instâncias, e de forma arbitraria. A vitimização não passa de um analgésico, faz os torcedores fingirem fazer parte de uma trama, em que existem as vítimas e os vilões, quando na verdade o que existe é uma posição na “cadeia alimentar”. O oprimido em âmbito continental pode ser o opressor em âmbito nacional, e por sua vez, o oprimido em âmbito nacional pode ser o opressor regional.


Essa é a verdade, nua e crua, para quem quiser enxergar. Quem preferir, pode fingir que faz parte de uma novela, às vezes faz até bem para a saúde.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O professor da sua universidade ganha mal mesmo?

Greve de professores é algo que tem bastante respaldo na sociedade. De modo geral, o povo apoia, alegando que: “Professor ganha uma miséria nesse país!” Será mesmo? Será que todo professor ganha mal aqui?

Quem mais promove greve são os professores universitários e, curiosamente, são os que ganham melhor. Já que são eles os que mais reclamam, vamos dissecar os rendimentos dessa categoria?

Um professor mestre de faculdade pública, dedicação exclusiva, ganha hoje em torno de 7 mil bruto INICIAL. Como o ser humano é bastante conveniente, quando ele quer aumento, obviamente não irá lhe dizer o bônus de sua profissão, mas somente o ônus. Se fosse tão ruim assim ser professor universitário, os concursos não estariam tão lotados de profissionais qualificados. A verdade é que fazer parte dessa categoria tem certas regalias e, a maior delas é receber por 40 horas semanais sem trabalhar 40 horas. É só observar como é dividida a carga horária do professor. As horas dadas em sala de aula giram entre 12 e 16 horas, sendo que a maioria das faculdades estipulam 12 horas. Todo o restante (cerca de 28 horas) fica para as atividades complementares. É obvio que um professor com certo tempo de ensino, que não precisa preparar todas as aulas (pois boa parte está pronta), não trabalha 40 horas por semana, mesmo com as atividades complementares. A maior prova disso é que professores que não são dedicação exclusiva trabalham também em outras empresas. Os cursos noturnos estão lotados de professores que tem contrato de 40 horas com a faculdade + 40 horas em outro setor. Você acredita mesmo que ele trabalha 80 horas por semana?

Podemos dizer então que os 7 mil inicial para o mestre não equivalem a 40 horas, mas a cerca de 30 horas (vamos estabelecer isso como média). Então o salário do professor DE é 7 mil por 30 horas. Alguém poderia dizer: “Mas o profissional acadêmico precisa estar sempre lendo, se atualizando”. Amigo, qualquer profissional precisa se atualizar, se o engenheiro não lê nada fora do seu trabalho, ficará para trás no mercado, então não vem com essa ladainha. Contam como trabalho do professor as horas em sala de aula; preparação de aula; orientações (TCC ou projeto de pesquisa) e correção de avaliações. Alguns profissionais mais dedicados poderão chegar a uma média de 40 horas semanais, mas são exceções. Fazendo estritamente aquilo que lhe é exigido em contrato, o professor não trabalha uma média de 40 horas por semana.

Outra regalia da profissão são as 2 férias anuais, sendo uma formalizada e a outra que acaba acontecendo por conta do recesso do meio do ano. Além disso tudo, é uma profissão bastante flexível, o professor pode faltar quando precisar, tendo a possibilidade de repor depois a aula. Além disso, tem 28 horas semanais para alocar da forma que desejar.

Coisa horrorosa não é? Ganhar 7 mil pra trabalhar 30 horas por semana e de maneira flexível.

Mas se mesmo assim você acha pouco, então vamos comparar com o mercado. Abaixo vai uma lista da média salarial de outras profissões:

Medicina – 6.940,12
Engenharia civil – 4.604,41
Engenharia química – 4.549,12
Odontologia – 4.238,65
Direito – 4.104,84

Essa é uma pesquisa do IPEA, os dados são de 2010, não consegui um ranking atual. Mas não estão tão defasados, é só considerar cerca de 20% de reajuste em cada valor citado, e verás que os outros profissionais não estão bufando dinheiro. Vale ressaltar que os dados referem-se a 40 horas de trabalho por semana. Dessa forma, o que fica claro é que o professor universitário de faculdade pública só perde para médico.
Você também pode alegar que os exemplos citados acima também incluem profissionais sem mestrado. Sim, de fato, mas é bom lembrar também que os exemplos foram de profissões bem remuneradas, se quiser ver a lista completa, o link está no final do texto.

Agora que está provado por A + B que o professor da sua universidade não ganha mal, espero que a partir de hoje você pense 2 vezes antes de apoiar greves e mais greves que esse pessoal promove. Não vejo ninguém se movimentar para melhorar o ensino; cobrar do colega um maior compromisso; estabelecer mecanismos de fiscalização do corpo docente para aumentar a eficiência do professor, só vejo lutarem pelos seus próprios bolsos. Não estou falando mal da greve em si, elas foram importantes para o salário chegar no nível em que está. Mas agora que o salário está bom, é hora de dar a cara a tapa também para melhorar a qualidade do ensino. Encher o bolso foi bom, quero ver cortar na própria carne por uma educação melhor, e o primeiro passo é cobrar empenho daquele seu colega vagabundo. Vamos lá professor?

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/07/1305306-profissionais-de-medicina-tem-o-maior-salario-do-brasil-diz-ipea.shtml

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O dia do autoengano

Hoje é o dia do autoengano, de exaltar o trabalhador enquanto classe, como se nós estivéssemos estagnados na história. Como se o mercado de trabalho fosse como na época da revolução industrial, onde existia uma oposição clara entre trabalhadores X capitalistas, em que os patrões (capitalistas) em sua grande maioria eram sujeitos socialmente privilegiados.

O capitalismo se desenvolveu: passou por crises; se reinventou; se tornou mais racional. As fórmulas estão em constante mutação. O modo de acumulação não é mais o mesmo e, o próprio estado não tem mais o mesmo papel que outrora.

Frente a todas essas mudanças, a final, quem são os trabalhadores? Será que todo trabalhador é oprimido pelo sistema? Será que todo patrão é um privilegiado que nunca precisou arregaçar as mangas?

O mundo do trabalho está cada vez mais multifacetado e complexo, definitivamente não podemos mais nos referir ao trabalhador como algo uníssono, de necessidades e perspectivas similares. Também não podemos mais nos referir aos empregadores como sinônimo de capitalistas. A quantidade de empregos formais no Brasil hoje totaliza cerca de 48 milhões. Desse total, aproximadamente 15 milhões são oferecidos por micro e pequenas empresas, e 12 milhões pelo serviço público. Significa dizer que a maior parte dos trabalhadores não estão empregados em entidades privadas de grande porte. Ou seja, os capitalistas não são os maiores empregadores.

No mundo capitalista é difícil um sujeito sair do nada e chegar a ser um Mega Empresário, existem casos, mas são raras exceções. No entanto, é bastante comum o sujeito deixar de ser empregado para ser empreendedor. De modo geral, o micro empresário brasileiro está bem longe de ser privilegiado, e as estatísticas vão nessa direção: 48% das micro e pequenas empresas fecham as portas em 3 anos de atividade. São essas as empresas que mais empregam no país, juntamente com o estado. Em grande parte, as pequenas empresas tem como proprietários, indivíduos que trabalharam muito para conseguir essa pequena ascensão. Isso quer dizer que uma grande parte dos patrões brasileiros são também trabalhadores, e consequentemente, grande parte dos trabalhadores tem trabalhadores como patrões.

Além disso, as próprias perspectivas dos trabalhadores se tornaram bastante distintas. Hoje existe aquilo que se pode chamar de trabalhador “elitizado”, que faz parte tanto da burocracia estatal quanto do setor privado, e angaria rendimentos relativamente maiores. Executivos, gerentes, auditores fiscais, juízes, economistas, desembargadores, médicos, dentistas, acadêmicos, engenheiros, burocratas em geral, dentre outros. De modo geral, esses não compactuam com o mesmo sentimento de classe de um operário. Alguns deles inclusive nem mesmo se sentem trabalhadores, basta observar a reação de diversos professores universitários quando lhes pedem para praticar o protocolar ato de bater o ponto. É a chamada classe média.

Não faz sentido então hoje em dia enxertar um teor ideológico na palavra “trabalhador”, como se isso representasse um sentimento comum, um coro. O que vemos é que a “classe trabalhadora” está cada vez mais fragmentada, o reacionarismo não parte somente das classes dominantes, parte também de trabalhadores, que conseguiram alcançar a metade da escada e se acham superiores aos que estão lá em baixo. E nesse meio existe inclusive aqueles que fingem se importar com os que estão lá em baixo, são exatamente aqueles que se dizem comunistas e fazem greve para aumentar seu salário de 8 mil por mês, porque ele estudou, se esforçou, e 8 mil é pouco, é uma miséria, o governo tem que dar mais. Mas e o comunismo? Deixa para a mesa de bar e para o facebook ...  

terça-feira, 29 de abril de 2014

Opiniões de personalidades sobre o episódio da banana

Romário
“Daniel comendo banana é um poeta"

Paulo Schimitt
“Pela regra, o jogador não pode comer em campo, o Daniel deverá ser punido ...”

Pelé
“Vim aqui dizer que bato palmas para o Daniel, não podemos admitir que brasileiros e negros sofram preconceito nos Estados Unidos.”

Valesca Popozuda
“Eu apoio isso que vocês estão dizendo ai ..."

Estudante de história
“Não somos macacos! Tudo começou em Roma, quando o imperador ...”

Biomédico
“No gramado possivelmente havia colônias de bactérias, de modo que o jogador deveria ter lavado antes de comer”

Advogado
“Não ficou claro que a banana arremessada era para ele, isso configura roubo.”

Dinho Ouro Preto
“Irado!”

Maradona
“Já sei o que vou fazer com a banana na Copa ...”

Muricy Ramalho
“A banana pune!”

Bruno
“Quem nunca jogou uma banana num estádio de futebol?”

Galvão Bueno
“Veja Arnaldo ... ele está fazendo um protesto contra o extermínio de macacos na Austrália ...”

Serguei
“Banana ... boa ideia!”

Contador

“Se você quiser, eu digo que foram 2 bananas”

Caio Ribeiro
"Tudo indica que foi preconceito de quem jogou a banana"

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Mulheres, vistam-se para nós Pt 3

O tempo passou e outras bizarrices apareceram no mundo da moda feminina, sinto-me na obrigação de conscientizá-las (mentira, só quero zuar) quanto a algumas peças anti-tesônicas que vocês andam vestindo por ai.

Para quem chegou agora e não viu os textos anteriores, essa é a 3ª parte de um árduo trabalho de tentar mostrar para as mulheres que os homens não olham somente para as bundas e peitos delas, eles reparam (de vez em quando) nos adereços que elas usam para se cobrir. Portanto, vestir-se em conformidade com o gosto masculino (e não com o de suas amigas e inimigas) pode ajudar.

Noto que a tendência da moda retrô está em alta, não tinham mais o que fazer e resolveram “ruminar” os anos 80. Desse modo, voltaram a esticar tudo pra cima: Biquini, short, calça, tudo. “Qual o problema?” O problema é q é ffffffffeio, só isso (imaginem Fábio Porchat dizendo isso, esse é o tom da interpretação).


O caso menos grave é o biquíni, mas o ideal é o horizontal (eu falo do meu jeito), é mais sensual e bonito. Esse ai me lembra filme erótico dos anos 80. 




Outra coisa que virou febre é o short da mulher maravilha que Anitta aparece usando. E olha que eu selecionei o mais bonito, tem piores.


Não precisa se enforcar com o short.

O pior de tudo é quando a mulher resolve se embalar para presente e veste um troço como esse abaixo. 


 Se o sujeito estiver alcoolizado, olha e diz que é um Temaki gigante.

Tem também a sandália com fundo. Na verdade é um sapato conversível, mas chamam de sandália. Calçando isso não adianta fazer as unhas do pés, a sandália grita mais alto.




 E para finalizar, resolveram roubar o óculos do meu avô e produzir em série. O óculos é tão grande que se quebrar a lente vão pensar que jogaram uma pedra numa vitrine.

Quando você usa uma porra dessa, olha como a sociedade te vê:



Isso é tudo. Não precisa ir nos comentários pra dizer que isso é minha opinião, isso está subentendido no texto (eu juro). Eu também juro que não odeio você por usar essas coisas, o texto é para descontrair.

Gostou? Compartilha! 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Dissecando os "justiceiros"

A nova polêmica (uma das novas) do momento são os justiceiros, aqueles que resolveram com suas próprias mãos fazer aquilo que o estado não faz: combater o crime. Que bonito, não é mesmo?

Quem recentemente se envolveu na polêmica foi a jornalista Raquel Sheherazade: aquela que a nível de nome complicado, só perde para Friedrich Nietzsche e, a nível de encrenca, só perde para mim. Hehehe ....

Raquel deu uma declaração que, em rede nacional, seria como se jogar do precipício esperando que as pessoas aparassem.

Eu até gostaria de concordar com a Raquel, mas não posso. Na verdade, o ideal seria se o contexto me desse subsídios para concordar. Mas em busca do compromisso com a realidade, não dá para concordar com uma declaração encharcada de individualismo.

Pelos meus 28 anos de vida, me arrisco a dizer que pelo menos 60% dos justiceiros dão motivos para serem amarrados no poste também. A final, estamos num país hipócrita, em que ladrão rouba ladrão e ainda tira onda de correto. Alguém já amarrou no poste um universitário que cobra para fazer monografias? Já amarrou aquele dentista que vende notas fiscais para quem quer sonegar imposto de renda? Já amarrou aquele professor que dá 20 minutos de aula e cai fora? Já amarrou aquele médico que “trabalha” 200 horas por semana? E aquele seu brother que fraudou o concurso da prefeitura pra você passar? Será que Raquel defende que esses sejam amarrados no poste também, ou amarrados em cima do formigueiro?

No entanto, é claro que um assunto como esse, jogado nas redes sociais, ganha todos os adereços e coloridos possíveis, típicos da nova “era glacial”, em que o discurso politicamente correto é sempre o melhor. Nesse sentido, chovem aqueles discursos míopes e raivosos. Alguns levam a discussão completamente para a questão do racismo, de tal forma que fica parecendo que viram um negro na rua e foram lá amarrar o cara. O racismo pode ser um agravante, mas acredito que a essência do problema está na construção de valores a respeito dos crimes, uma construção que perpassa pela nossa cultura individualista. Existe conflito de classes também, mas não é algo maniqueísta, em que o sujeito de classe média quer deliberadamente botar pra lascar em cima do pobre. Esse conflito está nas estrelinhas. Se alguém de classe média resolver praticar assalto a mão armada, provavelmente será tratado de forma bastante parecida com o tratamento que se dá ao pobre. Da mesma forma, se um pobre bater o ponto e cair fora do trabalho, também será tratado de forma parecida como alguém de classe média. É uma construção que resulta na divisão entre: crimes toleráveis e intoleráveis.

Mas a final, o que é o crime inescrupuloso? O crime inescrupuloso é aquele que perturba a ordem da sociedade, que causa transtorno de forma direta. Cheguei em casa, fui usar meu computador e ele não estava lá. Descubro que fui roubado, fico puto e quero matar o cara. Esse computador pode ter sido comprado com dinheiro sujo, pode ter sido dinheiro de suborno por exemplo, mas e dai? Suborno não causa transtorno, não é mesmo? Suborno não deixa ninguém puto, com medo, desesperado, apreensivo, etc. O crime só é inescrupuloso a partir do momento em que alguém é afetado de forma direta. Por isso que quando alguém desvia dinheiro público, a revolta de cada pessoa é menor, pois ela não sofreu transtorno diretamente, mas sim de forma indireta. Inclusive o pobre reproduz isso da mesma forma. Se me assaltarem, quero meter a porrada, mas se fizerem gato de energia na minha rua, eu nada faço. Acredito que esse é o ponto X da questão.

E onde está a causa disso? A causa está no individualismo de nossa sociedade, que costuma analisar em primeiro plano o lado individual e, depois, se der tempo, o lado social. Quando eu recebo suborno de alguém, naquele momento ninguém se sentiu afetado, então eu ignoro todo o “efeito borboleta” que isso irá causar. O professor dá 20 minutos de aula e cai fora justamente porque os alunos não se sentem afetados, em sua maioria. Ninguém lembra que isso representa uma desonestidade.

Dessa forma, quando as pessoas veem os crimes sendo cometidos, elas se colocam no lugar da vítima, fazendo julgamento a partir disso. Essa é a causa da ação dos justiceiros. Eles não combatem o crime, querem apenas manter a ordem social. “Foi fulano, mas poderia ter sido eu sendo assaltado”. Imbuídos desse pensamento individualista, as pessoas promovem a auto proteção, com a faixada da “Justiça do cidadão comum”.


Os justiceiros estão completamente errados. Mas você acha que não reproduz esses valores no cotidiano também? Acha que eu e você estamos livres disso só porque não metemos a porrada num batedor de carteira? Até que ponto você confunde justiça com auto proteção? Pense nisso ...  

domingo, 19 de janeiro de 2014

O tribunal artístico: O processo de hierarquização da música


Volto a escrever sobre esse tema, com a finalidade de esclarecer de uma vez por todas, porque a hierarquização artística sempre é necessária.

Recentemente a discussão a respeito do preconceito musical/artístico foi acalorada pela estudante que escreveu uma dissertação sobre o funk. Não li o trabalho, mas li uma entrevista com a autora. Pelo visto o trabalho tenta mostrar o funk de outra forma, uma espécie de defesa de que o funk só é considerado música ruim por conta do preconceito. Isso divide opiniões no meio acadêmico e musical e, o debate observado é bastante tendencioso e sem consistência. Mostrarei porque a hierarquização artística é necessária e inexorável. Tentarei ser o mais objetivo possível.

Um questionamento (que a princípio parece ser “matador”) de quem escuta músicas tidas como ruins, é alegarem que: “Se tal música representa uma grande quantidade de pessoas, o que faz dessa música algo de qualidade ruim?” Esse deve ser o questionamento mais usado para quem escuta arrocha por exemplo. Pois bem ... na verdade, a qualidade artística é definida através do que cientificamente se entende como “conflito simbólico”. Os conflitos simbólicos dos agentes sociais irão definir o que é “boa arte” e “arte ruim”. Isso acontece através de uma análise estética da obra. Nesse conflito, os poderes são distintos. Um especialista tem poder simbólico maior do que um sujeito qualquer. Isso acontece porque o especialista tem maior legitimidade no meio. Isso existe não só na música, mas em todos os tipos de arte. Em matéria de arte, a voz do povo não é a voz de Deus. Isso é um absurdo? Não!

Se a voz do povo fosse a voz de Deus, possivelmente todos os filmes de Van Damme ganhariam importantes premiações, e isso seria uma injustiça artística. No cinema, o poder de consagração é bastante concentrado, as premiações são definidas pela votação de especialistas. Na música o processo é mais fluido, as premiações não tem tanto impacto e, nem sempre são definidas por especialistas. Mas ainda assim, existe um processo de consagração, que se dá através das opiniões emitidas por especialistas e músicos principalmente. Programas de TV, revistas, opinião da crítica, academia, etc, são meios de consagração. Nesse conflito, o “povo” também participa, mas os poderes também são bastante distintos. Obviamente, um intelectual tem maior poder simbólico do que um sujeito analfabeto. É através de todo esse processo que os valores simbólicos são definidos, valores que estão em constante mutação. Nesse sentido, fazer afirmações que levam a crer que funk e arrocha são tratados como a escória da música por puro preconceito, são colocações levianas e injustas. Ainda que sejam músicas que representam uma grande quantidade de pessoas, essas pessoas (em sua maioria) tem pouco poder no conflito simbólico, pois não são especialistas, nem possuem nível de instrução legitimado.

Tudo que disse anteriormente pode parecer escroto, mas quando estabelecemos comparação com outros tipos de arte, fica mais fácil notar que não. Imagine se a voz do povo fosse muito “escutada” na literatura. Possivelmente 50 Tons de Cinza seria considerada uma obra de arte suprema, correto? O livro vendeu mais do que água no deserto, mas isso não quer dizer que dentro da crítica literária, seja tratado como uma grande obra. Na música é a mesma coisa, se o volume de vendas (que de certa forma ilustra a vontade do povo) fosse parâmetro, Pablo seria um artista supremo e Yamandu Costa seria um zé ruela.

É uma falácia também a afirmação de que o preconceito de classe e de cor tem um peso enorme no processo de legitimação. Recentemente vimos que as chamadas “Bandas Coloridas” foram achincalhadas, mesmo sendo um estilo de brancos de classe média. O sertanejo universitário está longe de ser música da periferia, e ainda assim não tem prestígio na crítica. Existem inclusive severos questionamentos dentre pessoas influentes na música, em relação à Bossa Nova ter posição tão privilegiada no campo musical brasileiro. Os preconceitos existem, mas não são tão decisivos quanto se pensa.

Qualidade artística é algo que está no campo da subjetividade total, mas é necessário que os especialistas tenham poder simbólico maior de consagração, ainda que eles carreguem valores preconceituosos diluídos em seus posicionamentos. É melhor assim do que esperar que o mercado por si só defina o que presta e o que não presta. É por conta do conflito simbólico desigual que eu posso vender 10 mil CDs e ter maior prestígio do que alguém que vendeu 500 mil. Sendo mais claro, é por conta disso que Yamandu Costa não é injustiçado, mesmo não sendo rico, pois ele busca enriquecimento simbólico, e não econômico. Enquanto isso existir, está garantido que ele não dará um tiro na cabeça por ser um dos maiores violonistas do país e do mundo.

Qualidade musical existe, mas não devemos sentir vergonha por gostar de arte considerada vulgar. Devemos apenas saber reconhecer, separar o que é supremo do que é banal ...