terça-feira, 24 de julho de 2012

Relatos de um ex Headbanger

Adolescência é o período da afirmação do indivíduo, e essa pode vir de duas formas: se distinguindo ou se igualando. Em outros termos, seguindo as normas ou se opondo a elas. Todo adolescente com forte necessidade de afirmação segue um desses caminhos, ou vira um(a) garoto(a) Malhação ou entra em alguma tribo, que pode ser punk, headbanger, gótico, e por ai vai.

Fui adolescente (obvio), e onde vivi, interior da Bahia, se enquadrar no padrão significava ir para as festas que rolavam na cidade (forró, pagode e axé) e namorar (mostrar que você namora). Se a pessoa fizesse as 2 coisas já era aceito na rodinha dos pops. Nesse meio ser popular é o máximo, um menino popular pode ser feio como o demônio que pega quem ele quiser. Do outro lado tem as tribos, que se opõem ao padrão. Eu era um adolescente tímido e caseiro, além de não ter muito sucesso no esforço para gostar das músicas da moda. Resultado, virei um Headbanger.

Headbanger (que na tradução literal significa batedor de cabeça) é o cara que escuta metal (só metal), anda de preto nas ruas (mesmo no sol quente), bebe, e principalmente, fala mal dos playboyzinhos pagodeiros filhos da puta. Na verdade o playboyzinho pagodeiro filho da puta não é muito menos babaca que o Headbanger, ambos seguem normas bisonhas para se firmar, a única diferença é que o segundo escuta algo um pouco melhor em média. Mas não dá para negar a imbecilidade de quem vai ao cemitério de noite beber só para dizer que é o mórbido transgressor. Eu não fiz isso, mas 90% faz. Não dá para negar a imbecilidade de quem acha que Bon Jovi é um lixo e Napalm Death é foda. Os Headbangers se acham Cult, inteligentes, e batem cabeça ao som de Devoured By Vermin – Canibal Corpse, que pra eles é arte de alto nível, anos luz à frente de Bossa Nova, Soul, Pop, ou qualquer outra coisa. Então se você é Headbanger e está lendo isso, saiba que você é babaca. Mas não se desespere, adolescência é a fase da vida que temos o direito de ser babaca. Direito não, é quase um dever, precisamos de histórias idiotas pra contar a nossos filhos.

É importante não confundir Headbanger com qualquer pessoa que escuta metal, hoje ainda escuto algumas bandas e nem por isso me considero um. Headbanger é o que faz parte da tribo, segue as normas e adota as práticas. É nessas normas que as babaquices se multiplicam, sobretudo nos critérios pra definir qual banda é true, qual é poser, qual é boa, qual a ruim, etc. No mundo do metal a banda precisa pensar se vale a pena evoluir, pois pode perder público. O tosco é muito valorizado, é cru, espontâneo. O mais elaborado é comercial, poser. Com certeza os headbangers acham o primeiro álbum do Viper mais foda que o 2º, porque é muito mais cru (eu chamo de feito “nas coxa”).Tecnicamente falando o 2º da banda está anos luz na frente, em todos os aspectos, só que se tornou mais melódico, então nos valores headbangers ficou mais poser ... rsrs. Lembro da vez em que um amigo disse que me mostraria o melhor álbum de Death Metal da história, eu estava ansioso e levei um K7 pra ele gravar. Tratava-se de Possessed – Seven Churches. Escutei e tive certeza de que no mundo headbanger ser tosco era bom. O segundo álbum dessa banda era muito melhor elaborado, mas era tratado como inferior.

Eu era um headbanger meio heterodoxo, não compactuava com muitas coisas, mas ainda assim não deixava de ser babaca, fingia a mim mesmo que eu era aquilo.

O recado que dou para quem é headbanger, é que você daqui a uns 4/5 vai olhar pra trás e rir de tudo isso. Você tem esse comportamento porque sente necessidade de se diferenciar, se firmar em algum grupo, ser aceito. Mas isso só é compreensível até no máximo 22 anos, mais do que isso começa a ficar preocupante. Eu parei aos 19 e estou limpo até hoje (glória pai). Pode me xingar nos comentários, você pode usar seu passe livre de adolescente para falar qualquer coisa, eu já fiz isso um dia. Só peço uma coisa, copia o link e volta a ler daqui a 4 anos, ok?