sexta-feira, 2 de março de 2012

Aborto, valores e pensamento coletivo


Já escrevi sobre esse tema em outra oportunidade, mas como faz bastante tempo, quero entrar nesse assunto novamente para falar da hipocrisia e oportunismo pelo qual o mesmo tem sido tratado, principalmente pelo movimento feminista ou pelos partidos de esquerda.

Você pode não acreditar, mas sou esquerdista, apesar de atacar a esquerda aqui nessa página por diversas vezes. Mas eu ataco da mesma forma que a mãe bate no filho, é por amor, hehe.

Nossas leis são construídas a partir de valores também, não somente por noção de bom senso ou em nome das liberdades. Por mais livre que seja o estado das amarras religiosas ou das tradições, os valores sempre farão parte das decisões a respeito do que a lei “pensa” ser correto ou não. Um sujeito manter relações com uma menina de menos de 14 anos é considerado estupro no Brasil (se ele for maior de idade), mesmo com consentimento da garota. Essa é uma lei que não parte nem das perspectivas de liberdade, nem da lógica do bom senso, mas sim de valores. A sociedade jurídica entende que uma menina com idade menor que 14 anos não está apta a decidir sobre sua vida sexual. Antes que algum maluco diga que estou falando mal da lei, não se trata disso, só estou apontando a partir de qual perspectiva foi criada a mesma. A eutanásia e pena de morte vão na mesma perspectiva, não há como julgar sem levar em conta os valores.

A questão do aborto também é algo que não pode fugir da esfera valorativa, trata-se de concepção de vida, alguns entendem que feto é um ser já no estágio humano, outros não, e essa questão é crucial, não dá para fugir dessa sinuca. Nesse sentido, o que os movimentos feministas ou de esquerda estão buscando é deixar a questão dos valores de lado e fazer uma análise estritamente técnica (objetiva), um atalho para aprovar a legalização do aborto. “Aborto, uma questão de saúde pública” é a fachada que utilizam para camuflar a esfera dos valores, a esfera subjetiva. Me surpreende inclusive, um movimento com ares de intelectualidade fazer esse tipo de coisa. Esse argumento parte da idéia de que o estado deve legalizar para evitar que mulheres morram fazendo aborto em “açougues”. Antes de ser uma questão de saúde pública, aborto é uma concepção de vida humana. Pode resmungar, xingar, gritar, rosnar, citar “versículos” de Marx, mas no fundo quem leu isso sabe que é uma verdade inexorável.

Em grande parte isso é culpa do atrofiamento da reflexão em nossa sociedade, as pessoas entram nos movimentos, sejam eles quais forem, e automaticamente compactuam com tudo que é “pregado”. O “efeito manada” não é só a Globo que promove, as pessoas se sentem mais confortáveis em pensar coletivamente, a esquerda também aliena, é bom salientar isso aos desavisados.

Como eu já sei o que se passa na cabeça desse povo, muitos nesse exato momento estão pensando assim: “Levar a questão para o campo dos valores só emperrará a discussão, não chegando nunca a um consenso!” Isso até soa bonitinho academicamente, mas sinto em lhe dizer que o debate técnico/científico também será complicadíssimo, visto que outros argumentos podem ser levantados, como por exemplo o aumento vertiginoso do gasto do SUS com abortos. Será que o SUS, que já é precário, deve arcar com custos de aborto, visto que gravidez não é doença? Essa é outra discussão que renderia bastante. Além do mais, no debate em si não precisa haver um consenso, para isso existem as urnas, creio que um referendo sobre legalização do aborto é a melhor solução.

Se gostou compartilhe o texto nas redes sociais. Estou também aceitando sugestões de temas para escrever aqui, visto que estou meio sem assunto ultimamente.