quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Cultura: Uma visão alternativa do alternativo

É legal valorizar aspectos de nossa cultura tradicional, é até bonito recordar da nossa infância, dos costumes, etc. Mas em alguns seguimentos observo que existe uma tendência abusiva de se exaltar o antigo, o tradicional, em detrimento de tudo que é moderno. O mundo capitalista, urbanizado, racionalizado, é satanizado a todo instante. O legal mesmo é a vida simples, de interior, onde os laços sociais são mais “apertados”, não é mesmo? O tempo de nossos avós, o forrozinho, as cantigas, as lendas, etc. Isso sim era bom, hoje está tudo uma merda. O capitalismo, um sistema que é culpado por todas as mazelas da humanidade (a final, o mundo era um paraíso antes dele), chegou para destruir as culturas tradicionais, homogeneizar, transformar tudo em fast food, até mesmo a arte. O sistema fez com que as pessoas se tornassem mais egoístas, racionais, escrotas, é a lógica do mundo urbanizado.

A verdade é que a suposta homogeneização cultural provocada pelo capitalismo tem efeitos perversos, mas não somente. Pergunte para uma mãe solteira se ela preferiria viver no tempo de seus avós. Faça a mesma pergunta a um gay. A convivência urbana é por si só mais diversa e individualista, as pessoas se conhecem menos e ao mesmo tempo precisam se relacionar com o diferente, isso promove uma deterioração dos valores “originais”. Ilustrando, a mãe solteira que há 50 anos teria muito pouco estímulo para se tornar independente, hoje ela pode trabalhar, estudar, se sustentar e se impor, porque no mundo racionalizado as regras legais falam mais alto que os costumes. A racionalização reduziu então a vulnerabilidade e flexibilizou as relações.

Quando você for pagar de saudosista, valorizando o antigo, o tradicional, como uma espécie de afirmação, exalte também o machismo, a homofobia e o racismo, bem como outros diversos tipos de discriminação e valores perversos. Tudo isso também faz parte da cultura e dos valores tradicionais.

Se existe uma vantagem no capitalismo, é a maior liberdade de valores. Não que o sistema tenha acabado com a discriminação, mas seu mecanismo de funcionamento, que tende a ser mais meritocrático e racional, enfraquece os laços sociais. O processo de destruição (ou homogeneização) cultural é como uma quimioterapia, corrói o que é bom e o que é ruim. O que não se pode aceitar são análises rasas e tendenciosas sobre o que significa a destruição da cultura tradicional.

Coloque um sujeito de uma metrópole em um lugar provinciano e ele vai dizer: “Aqui tem muita fofoca!” Faça o contrário e vai escutar: “Não existe amizade aqui como no interior!” São os dois lados da mesma moeda, portanto é mais complexo do que parece. Eu acho que tem muita mulher no Oriente Médio que sonha com uma destruição cultural ...