domingo, 2 de agosto de 2015

Pois ser feliz não basta ....

Não é novidade alguma que o ser humano gosta de se exibir, se firmar, se diferenciar. Cada um faz isso de determinado modo, em determinado grau. A peculiaridade é que antes da internet o raio de impacto do marketing pessoal era menor. Com o facebook, é como se tivessem acionado o turbo do exibicionismo. Agora todos tem uma vitrine.

Quem nunca se deparou com uma situação do tipo: A pessoa posta mensagens de amor; fotos do casal e declarações, todos os dias e, de repente, o namoro acaba. Acho que a maioria já viu uma situação dessa. O que tem de relacionamento conturbado ganhando contornos de conto de fadas no face não está no gibi.

Existem coisas que parecem normais nas redes sociais, mas não são. A principal delas é a declaração de amor explícita. Quem faz declaração de amor explícita no facebook, na verdade quer exibir para a sociedade (amigos) o quanto é feliz. Ser feliz não basta, alguém precisa saber. Se acha que é exagero da minha parte, então escreva nos comentários qualquer outro motivo plausível para se fazer algo do tipo.

O Facebook é uma vitrine legitimada. Ninguém num almoço entre amigos, pede a palavra para fazer uma declaração de amor, do nada. Mas no face ....

A moda que representou o clímax do exibicionismo foi a selfie depois do ato sexual. Acredito que depois dessa Deus pensou em substituir a raça humana por outra coisa.

Além da exibição de relacionamentos felizes, as pessoas gostam de mostrar também seu poder de consumo. Tudo isso faz parte da disputa por uma boa posição no ranking da felicidade, que acontece diariamente no facebook.

Qual o limite entre o simples desejo de compartilhar uma foto e a vontade de se exibir? Não existe um método, mas a gente sabe pelo modo, frequência, legenda, e por ai vai. Está nas entrelinhas.

Acredito que 99,99% dos seres humanos sentem em algum grau necessidade de se exibir. Mas isso precisa ser dosado. Do contrário, corre-se o risco de se dar mais valor à embalagem do que ao produto, ou seja, de se empenhar mais na propaganda do que na construção de uma boa realidade. Isso é um problema.


Se você sente necessidade de mostrar felicidade, significa que a mesma só se concretiza quando você exibe. Você não é feliz com sua vida, sua felicidade vem da comparação com a vida alheia, de fazer os outros desejarem o que você tem, ou o que você é.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Redução da maioridade para além do Fla X Flu

A discussão em torno desse tema, como tantos outros, caiu em briga de torcida. Se você é a favor da redução, significa que você é racista, reacionário, tucano e leitor da Veja.  Se é contra, significa que é ponderado, inteligente e tem consciência social. O velho Fla X Flu que tem norteado quase todas as discussões polêmicas. Em que time você está?

Se for para assumir mesmo um time, eu recomendo o time dos que são contra. Nas redes sociais, uma fórmula simples e rápida para pagar de cult e bacana, é ser contra tudo aquilo que a Veja e a Globo são a favor. Sério, funciona. É um macete para aqueles que não conseguem elaborar uma opinião própria.

A verdade é que sendo contra ou a favor, estatisticamente, o texto aprovado terá o mesmo impacto de adicionar um copo d’água numa piscina. Vamos analisar quais os principais argumentos contra a redução.

1 – O único efeito da redução é lotar ainda mais os presídios.

Esse é o argumento mais estapafúrdio de todos. Vou usar o homicídio (que é o crime hediondo mais comum) como exemplo. Estatísticas mostram que 90% dos homicídios no Brasil não são solucionados. Isso mesmo que você leu: 90%. Dos 10% restantes, qual parcela representa os jovens entre 16 e 17 anos? O número é irrisório e não tem relevância estatística. Não vai haver acréscimo de detentos de forma representativa.

2 – Não soluciona o problema da violência.

Alguém disse que soluciona? Eu não li nenhum texto e não ouvi ninguém dizer que a medida ajudará a resolver o problema da violência. Esse argumento na verdade é um espantalho criado para se ter no que bater.

3 – Com a redução, o estado não estará fazendo justiça, estará se vingando do jovem.

Talvez. Assim como o estado “se vinga” de pessoas maiores de 18 anos em quase todos os lugares do mundo. Vamos acabar com as prisões então? Não é uma ironia, eu não tenho conhecimento suficiente para avaliar se o fim do sistema prisional tradicional traria benefícios. Mas você não pode achar que a vingança do estado só é ruim até 18 anos, e a partir de 18 a vingança passa a ser positiva. Isso é completamente absurdo. Se quer usar isso como argumento, defenda o fim desse sistema prisional como um todo. Mas por favor, faça isso com argumentos robustos.

4 – Só vai servir para prender preto e pobre.

Nesse caso, o problema está na corrupção da polícia e no racismo, mas não na lei. É a velha história de vender a cama para tentar impedir a esposa de trair. É outro argumento sem cabimento, ainda mais tendo em vista a estatística que apresentei no 1º ponto.

5 – As penitenciárias são verdadeiras universidades do crime.

Você acredita mesmo que aquele que já matou ou estuprou, precisa aprender algo? Mas vamos forçar a barra e supor que eles vão piorar na prisão. Nesse caso, voltemos ao 1º ponto onde mostro que a estatística é irrisória.

Como verificamos, os argumentos mais comuns contra a redução são demasiadamente frágeis. Eu consigo entender o indivíduo ser contra a redução, o que não dá para entender é a revolta, como se o impacto fosse devastador. A culpa disso é o pensamento enlatado nas redes sociais. Opiniões são como time de futebol: “Eu faço parte da turma do não”; “Faço parte da turma do sim”. O debate é nesse nível. As pessoas se expõem usando argumentos completamente absurdos.  

A redução da maioridade tem APENAS 2 funções: Punir e tirar o criminoso de circulação.

É uma política conservadora, que busca combater o crime da maneira mais simples, tirando de circulação por um longo período aqueles que representam ameaça à sociedade. Quanto à eficiência desse tipo de política, já li artigos mostrando que o método tradicional é o mais eficiente, mas existem estudos que questionam essa concepção. Acontece que isso é outro debate, que transborda a questão da maioridade penal.


Saia da sua torcida organizada e trate os temas com seriedade.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Preconceito científico com a etiqueta da liberdade de pensamento. Cuidado!

Durante minha vida acadêmica tive um contato forte com a parte mais subjetiva da ciência humana, sobretudo quando mudei de área e fiz mestrado em ciências sociais. Nesse percurso, pude notar um discurso pedante e de certa forma ingênuo por parte dos profissionais da ciência social. Esse discurso não traria maiores prejuízos para a sociedade se seus desdobramentos não ultrapassassem os limites da academia. Mas infelizmente, tem servido de subsídio para doutrinar concepções a respeito de certos fenômenos.

Implicitamente ou explicitamente, antropólogos e sociólogos de modo geral tem uma tendência forte em subestimar, ou até mesmo idiotizar, pesquisas biológicas a respeito do comportamento humano. É um comportamento egocêntrico e ignorante. Na maioria das vezes não é um posicionamento assumido, mas fica muito claro nos discursos proferidos. “A sociedade explica o comportamento humano”. Esse é o mantra da ciência social. Qualquer opinião baseada em estudos biológicos é rechaçada, e até mesmo ironizada.

Esse tipo de discurso é simplório e não passa de preconceito científico, muitas vezes forjado de liberdade de pensamento. Até certo ponto é compreensível, mas ao mesmo tempo, bastante perigoso. Existem ideologias que estão sendo alimentadas por esse discurso revanchista contra a ciência natural. O feminismo é um exemplo claro. Experimente dizer a qualquer feminista que determinado comportamento de gênero pode ser explicado por diferenças hormonais, por exemplo. Acontece que pesquisas sérias mostram que diferenças hormonais podem explicar comportamentos de gênero distintos. Além do fator hormonal, a constituição cerebral é outro elemento importante. Rechaçar esse tipo de pesquisa é preconceito científico.

Eu tenho pena do biólogo que resolver publicar algum artigo tratando de diferenças comportamentais entre raças diferentes. Coitado! A depender da constatação da sua pesquisa, a reação será trágica.

A ciência social não é neutra, a própria escolha do objeto de pesquisa está imbuída de valores. Toda pesquisa sociológica é também reducionista, pela própria natureza da ciência. Porém, o que noto é que os cientistas naturais tem uma facilidade maior em aceitar explicações sociológicas, do que o contrário. Existe uma aversão à ciência natural que precisa ser superada. Isso é irônico, pois a turma das ciências sociais é justamente aquela que se auto intitula “aberta”, “progressista”, etc. Na prática, muitas vezes se comportam como cientistas enclausurados, que querem impor limites à ciência, com o chicote da ideologia na mão.


Como cientista, estou aberto para a diversidade de possibilidades e explicações, e gostaria que todos estivessem. Sou ignorante em matéria de genética e, de modo geral, sei muito pouco a respeito de pesquisas biológicas sobre comportamento humano. Gostaria que todos os cientistas sociais tivessem a humildade de admitir que não conseguem explicar o comportamento humano em sua totalidade, pois ninguém é capaz de explicar. Mas isso está longe de acontecer, e Weber se debate no túmulo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Liberdade sexual

Liberdade sexual é um tema que está em pauta desde que me entendo por gente. Porém, nos últimos anos, com o advento da internet e, por sua vez, dos pensamentos enlatados, o debate se intensificou. O problema é que esse debate tem sido conduzido pelas feministas, que para não perderem o costume, transformaram também esse tema em um maniqueísmo compulsivo.

A discussão é sempre tratada como se o homem tivesse liberdade sexual e a mulher não. Isso nunca foi verdade.

Em outros textos eu mencionei que tudo que é cobrado da mulher é inversamente cobrado do homem. Quando o assunto é liberdade sexual, esse princípio também se aplica.

Liberdade sexual não é SOMENTE o direito de transar à vontade sem ser julgado. É também o direito de não transar sem ser julgado. Ora, todos sabemos que o homem precisa fazer sexo para se firmar como macho. 18 anos e virgem ainda? Coitado, vai precisar esconder isso.

A quantidade de mulheres que o homem já pegou é uma espécie de capital simbólico que ele possui. Não dá para imaginar um homem pegar 10 mulheres bonitas e não dizer isso a ninguém. Acho que ele iria bugar, ou implodir.

Liberdade sexual significa que transar com 10 pessoas ou com nenhuma, não traz nenhum efeito social. Mas isso não acontece nem com o homem nem com a mulher. A diferença é que a cobrança é inversa.

Um homem solteiro não tem a liberdade de recusar uma mulher bonita. Se isso acontecer, existem 2 adjetivos para ele: Viado ou fraco. Ela quis dar e você não comeu? Hiiii .... tem algo estranho ai. Casar virgem? Não conte isso a seus amigos.

Essa cobrança parte somente dos homens? Não! O pegador é muito bem visto pela mulherada. O histórico do cara agrega valor. Se isso não fosse verdade, os homens não teriam nenhum constrangimento de falar para uma mulher que é virgem.

E se a garota resolver “se entregar” (bem novelesco isso) ao namorado e ele disser: “Não estou preparado ainda”? Putz ... some cara, de preferência  do país! Isso foi bem retratado em uma novela da Globo, em que a personagem que fazia papel de virgem (sim, a função dela na novela era ser virgem), resolveu dar para o namorado e ele não quis porque estava perturbado por um problema pessoal. Ela se sentiu altamente constrangida e ofendida. Por quê? Porque o homem tem de estar pronto para comer, sempre. Em uma relação, quem decide a hora de transar é a mulher, porque o homem obviamente está pronto a qualquer momento, certo? O homem é uma máquina de sexo ambulante.

A mulher pode até dar em cima de um cara, mas se ele recusar pelo simples motivo de: “não sinto vontade” (poucos sabem, mas isso é possível também com nós machos), provavelmente ela não olhará nunca mais na cara dele. Mulher rejeitada normalmente se sente bastante constrangida. O homem que rejeitou também.

Quando uma mulher é rejeitada, as explicações que passam pela cabeça dela são as seguintes: “Ele é gay”; “É metido, não fica comigo por questão de status ou dinheiro”; “Deve ser comprometido”; “Eu sou feia para ele”; “Eu sou um lixo, buáááá”; “Ele está com algum problema pessoal”; “Ele é muito travado, precisa se soltar mais”. Já passou pela sua cabeça que existe a possibilidade dele simplesmente não estar a fim? Só quem tem esse direito é mulher?

Falei alguma mentira?

Espero que depois desse texto parem de encarar a questão da liberdade sexual como um sistema em que o homem oprime a mulher. O machismo é uma divisão de papéis de gênero. O homem também não escolhe, a sociedade o obriga a assumir o papel de macho que todos esperam que ele exerça.


Para finalizar, preciso reafirmar o obvio, porque para maus entendedores isso não está implícito no texto. Os comportamentos descritos não refletem o comportamento de 100% da população, ok?

sábado, 10 de janeiro de 2015

Terrorismo, moral seletiva e a "cultura do outro"

Atentado terrorista volta a acontecer e a turma defensora dos oprimidos (ou supostamente oprimidos) já está tentando justificar o injustificável. Como a discussão precisa ser profunda, irei direto aos pontos centrais para ser breve.

Os antropólogos vão querer me matar, mas essa historinha de que eu não posso julgar a cultura do outro é uma coisa absurda. A partir da antropologia estruturalista, passou a ser quase proibido julgar a cultura alheia, mas não percebem que nós fazemos isso a todo instante.

Quais são as fronteiras da cultura? Como eu posso afirmar: “Essa é minha cultura, aquela é sua cultura”? Isso é absolutamente arbitrário!! No limite, uma família é uma cultura diferente. É engraçado a turma “progressista” achar errado satirizar a religião alheia. É a mesma turma que chama um evangélico de alienado; que faz piada com padre pedófilo; que faz piada com pastor ladrão; etc. Uma pessoa que nasceu e se criou dentro do protestantismo faz parte da mesma cultura daquele que nasceu e se criou dentro do candomblé? Sim e não ao mesmo tempo, simplesmente porque não existem fronteiras claras que separam as culturas. Através de uma determinada “lente”, eu posso afirmar que eu e um japonês fazemos parte da mesma cultura. Japonês consome, poupa, investe, acumula capital, vende sua força de trabalho para um capitalista, escuta rock and roll e joga vídeo-game. Mas ao mesmo tempo, o ele faz tudo isso de uma maneira diferente da minha, e é exatamente por isso que o japonês é diferente do brasileiro, mas também é igual. Essa é a abordagem dialética.

A turma “progressista” tem moral seletiva. Acha bacana e cult quando o canal Porta dos Fundos esculhamba o cristianismo quase toda semana, de maneira claramente implicante, mas acha absurdo alguém esculhambar o islamismo. Crente é a desgraça do mundo porque cria leis conservadoras através da bancada religiosa no congresso, mas não se pode dar um piu a respeito da opressão violenta que a mulher sofre em países islâmicos. O argumento é sempre aquela cartada clichê: “Não posso julgar outra cultura”. Como se o crente fizesse parte da mesma cultura dele. O “progressista” que quer criar uma lei que impede os pastores de emitir certas opiniões dentro do seu templo, é o mesmo que acha compreensível um ato de terrorismo em nome da fé. Ingenuidade mesmo ou moral seletiva?

É preciso acabar com essa concepção errônea de que a cultura é dividida geograficamente. Em um mesmo espaço convivem culturas diferentes. Se você acha que tem o direito de dizer que um evangélico passou por uma lavagem cerebral, mas não tem o direito de dizer o mesmo de um muçulmano, dá Ctrl + Alt + Del no seu cérebro, ele está precisando.

“Todo mundo” gosta de julgar, de apontar, de criticar os outros, mas alguns querem pagar de bacanas, se fazendo de relativistas em momentos oportunos (e quando o c*** não está na reta, claro).

Outro argumento que está sendo utilizado é de que o muçulmano é discriminado na Europa. Mas o direcionamento do atentado está bastante claro. O motivo é de cunho religioso.


Em suma, no caso do atentado, os errados da história foram os assassinos e ponto final. Foi algo absolutamente desproporcional sob qualquer ponto de vista coerente. Não há justificativa, não há espaço para textinhos pseudoinletectuais.