sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cala a boca, isso é ciência!


Muitas pessoas tem o costume de usar a atribuição científica para legitimar seu argumento. “Isso é provado cientificamente!” ou “Isso é ciência!”, são as frases mais comuns que se escuta em discussões a respeito de um tema qualquer. A ciência nesse caso é como um selo de garantia de qualidade, ou como uma “carta coringa” que se usa pra se vencer uma discussão, e o pior é que normalmente cola.

Primeiramente as pessoas nem param para refletir sobre o que é a ciência, tratam algo científico como uma verdade absoluta, inquestionável. Existem muitas definições de ciência, não existe um conceito exato sobre o termo, mas duas características que constituem a ciência são bem claras, a existência de um método racional para estudar o objeto, e de um critério. As pessoas na maioria das vezes nem se lembram em se questionar sobre os critérios que determinado estudo se utilizou, parece que ser científico põe o estudo em uma posição de blindagem. Os critérios utilizados para estudar algo podem ser equivocados, ou pode existir mais de um critério pra se estudar o mesmo objeto, e nem por isso deixará de ser ciência. Só para exemplificar, existe uma pesquisa que faz parte das estatísticas do IBGE chamada POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), dentre os critérios utilizados nos microdados da pesquisa, para caracterizar subnutrição eles usam um cálculo envolvendo peso e altura do indivíduo, um critério bastante questionável, já que não necessariamente peso em proporção à altura indica boa nutrição ou não. Mas a POF é uma pesquisa científica e rigorosa.

Outro erro é as pessoas confundirem explicação científica com prova científica. Tudo que é provado cientificamente é explicado, mas nem tudo que é explicado é provado. Nas ciências sociais por exemplo, a palavra “provado” quase não existe, o que existem são explicações. Explicar algo não é provar, pode-se fazer uma formulação rigorosa que explique determinado fenômeno, mas que não prove que a explicação é uma verdade. É ai que muitas pessoas usam a ciência pra legitimar seu argumento quando é conveniente, por exemplo: existe uma explicação social para as manifestações supostamente espirituais do candomblé, segundo alguns teóricos essas manifestações seriam representações psíquicas daquele contexto social. Certo, é uma explicação, mas não uma prova. À luz da sociologia não há como provar algo desse tipo, e essa explicação não necessariamente tem mais credibilidade que a explicação religiosa. Mas as pessoas (e até professores muitas vezes) usam a credibilidade desmedida que tem a ciência pra se impor em seu argumento: “Isso é um estudo científico!”, são colocações que inibem o “oponente” na discussão.

Mudando de ciência, indo para as ciências naturais, me irrita ver as pessoas tomando como fato algo que é uma mera hipótese ou teoria. Tem muitas teorias na biologia que explicam certas preferências através de necessidades biológicas, como aquela que diz que o homem prefere mulheres de ancas largas porque essa seria capaz fisicamente de ter uma gravidez de melhor qualidade, uma espécie de instinto do macho. E tem gente que trata isso como um fato, e não como hipótese. Falem isso para um sociólogo e vejam a resposta dele.

Ciência não é sinônimo de verdade, nem se deve usar o termo para fortalecer argumento nenhum, quem usa a ciência como escudo em discussões é porque no fundo sabe que seu argumento é questionável.

É isso, se leu expresse sua opinião clicando em uma das reações ou comentando. E se você pensou em criticar, vou logo avisando que esse blog é uma ciência.