segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Por que o povo de Feira é tapado?



Porque o povo de Feira de Santana é tão tapado? Fico surpreso com essa cultura (ou falta de cultura) do povo dessa cidade.

Feira de Santana é uma cidade de aproximadamente 700 mil habitantes, que se localiza a 110km da capital (próximo, se comparado com a maioria das outras cidades). É uma cidade que possui uma grande universidade, a UEFS, que atrai estudantes de todo o estado. Feira tem como principal atividade econômica o comércio, que é destaque em todo o estado.

A princípio não existe uma explicação muito clara a respeito da falta (ou baixo nível) de efervessência cultural daqui de Feira, que a meu ver é um caso peculiar. Existem coisas bizarras que ocorrem aqui que me causa espanto. Como uma cidade de 700 mil habitantes não consegue bancar a vinda de uma banda como O Rappa por exemplo? Há uns 3 anos atrás (aproximadamente) houve um show dessa banda aqui, juntamente com uma banda de Axé (não lembro qual), algo totalmente sem sentido uma mistura de tal tipo, mas tive a oportunidade de conversar com o produtor do show e ele alegou que no show anterior de O Rappa aqui houve prejuízo, não houve público o suficiente, daí a mistura com bandas mais comerciais para que haja viabilidade econômica de se trazer bandas desse tipo. Aliás, esse tipo de mistura tem ocorrido de forma frequente com outras bandas também.

Feira não tem uma cultura teatral, poucas peças, e as que tem são mal divulgadas e esvaziadas, sem contar quando atores sentem vergonha alheia com o comportamento por vezes tapado do público. Presenciei um desses momentos na peça "O Cabaré da Raça" do Bando de Teatro Olodum (ótima peça por sinal), quando a platéia dava gargalhadas com a citação de piadas racistas pelos atores. Detalhe, as citações eram puramente de cunho crítico.

Mas o que culminou a minha reação de escrever esse texto, foi o que observei no Festival Feira Noise. O Feira Noise foi um festival de música alternativa, que extrapolou esse caráter também, havendo diversas outras atividades culturais. Um festival muito bem divulgado, trazendo 22 bandas, dentre bandas da cidade e de outras cidades e estados. Um ótimo evento, mas o que observei foi o esvaziamento, o espaço do Teatro Amélio Amorin, que não é grande, ficou longe de ser preenchido, isso no sábado, o dia que fui. No inicio das apresentações estava ainda pior, estava uma vergonha completa, cerca de 20 ou 30 presentes, só depois de muito tempo outras pessoas chegaram e acho que deu para cobrir ao menos os custos do evento. Não sei como foi no domingo, mas com certeza não foi muito diferente, e se bobiar até pior. A grande quantidade de pessoas que chegaram muito tempo depois do inicio das apresentações demonstra também certa indiferença das mesmas com o evento.

O fato é que é complicado se pensar em qualquer evento aqui que seja diferente de Calcinha Preta, Chiclete com Banana, etc. Feira de Santana, pela quantidade de habitantes deveria haver muito mais participaçao nos eventos culturais, assim até estimularia a ocorrência de outros. Mas é impressionante a falta de efervessência cultural dessa cidade.

Não quero entrar no discurso simplório de dizer que o feirense simplesmente é tapado porque é tapado mesmo, deixo isso para as resenhas de mesa de bar. Mas quero lançar a discussão, porque existe esse processo aqui? Será que é o caráter comercial da cidade, que faz com que as pessoas não criem raízes com Feira, sendo que boa parte da população está aqui de passagem? Será que a UEFS não consegue contaminar a cidade com suas pulsões culturais? Ou será até que não existe pulsões culturais suficientes na universidade? Será que Feira "cheira" a trabalho? De tal forma que seus habitantes se tornaram racionais ao ponto de pensarem somente em ganhar dinheiro? Ou será tudo isso junto?

Enfim, está lançada a questão, talvez identificando o "problema" possa-se estabelecer formas de incentivo à cultura aqui em Feira, e quem sabe Tabarópolis (como diria meu grande amigo e ex orientador Ricardo Caffé) um dia se torne um berço cultural?

É isso, se leu clique em um dos marcadores ou comente! O comentário é importante sobretudo em caso de discordância.

9 comentários:

  1. Rafael acho que o que esta faltando é somente você respeitar o gostos. Se os shows e eventos culturais estão esvaziados é por que a população não se sente atraída por tais eventos e sim por outros. Tudo é cultura, desta forma não cabe você critica-los somente por que gosta de coisas diferente das que você gosta. Nesse sentido não concordo com sua postagem, acredito que cada um cultiva a cultura que gosta, se é ruim ou boa somente a pessoa poderá discernir.

    Forte abraço e aprenda a respeitar os gostos, e a cultura de cada povo. Tudo é cultura!!!

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  2. Em ai Dart, blza?
    Eu já escrevi esse texto sabendo que ia dar a maior polêmica e que ia "apanhar" nos comentários também ... hehehe. Mas eu não consigo não ser polêmico, então escrevi ainda assim.
    Esse texto é uma tomada de posição, como perceberam não pretendo nem um pingo ser imparcial. Nele falo de meu posicionamento sobre o que é uma representação cultural, e Calcinha Preta e Cia está longe de ser. Calcinha Preta e cia é uma música totalmente midiatizada, não representa nenhuma cultura (como representa o forró de raíz), trata-se de uma representaçao transmutada de uma cultura, que é a cultura nordestina, transmutada para fins mercadológicos. Portanto é no mínimo complicado falar nessas bandas como representação da cultura nordestina.

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  3. Não acho isso... Então você diz que rock é uma cultura brasileira??? kkkk....ai você entra em contradição meu caro.

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  4. afff .... o que eu quis dizer é que essas bandas não representam nenhuma cultura, nem do nordeste, nem da Inglaterra, nem de lugar nenhum. E não somente por isso, são músicas vazias, sem uma letra interessante, sem uma harmonia ou melodia interessante. Como eu disse, músicas feitas para o mercado, "enlatados musicais".

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  5. Ser tapado é não respeitar a diversidade em todos os seu aspectos. Pode não se gostar de bandas, cantores ou cantoras, mas colocar meu gosto como referência basilar e deixar à margem o restante, rotulando inclusive como não-cultura me lembra o etnocentrismo do século passado. Conhece relativismo cultural? Como se já não bastasse preconceito de gênero, orientação, etário, preconceito musical? Abra sua mente, expanda os horizontes. Não precisa gostar, basta respeitar.

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  6. Marcos

    1º Você é de Feira de Santana? Se for não deveria estar surpreso com minha colocação, pois é um comentário bastante comum aqui na cidade o "aculturamento" do feirense, aliás, usei no texto até um termo que não é meu, "Tabarópolis" peguei de outra pessoa.

    2º Não estou defendendo meu gosto aqui, inclusive citei uma banda que não escuto, que foi O Rappa, mas citei porque tenho o discernimento o suficiente pra saber que se trata de música de qualidade e de uma representação de nossa cultura.

    3º Se tu acha que Pagod'Art, Aviões do Forró, Calcinha Preta, Black Style e Cia é cultura, tu tá fu ... man. Como eu disse, são transmutações de uma representação cultural com fins mercadológicos. No caso das bandas de pagode vulgar, foram apreendidos elementos do pagode original (esse sim produto de uma cultura) e transformados pela indústria cultural em algo com alto poder de mercado.

    Só para concluir, é bom deixar claro que meu intuito é tratar de arte aqui, e não de entretenimento.

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  7. 1° Não sou, mas já morei em Feira de Santana. Não fiquei surpreso com suas colocações, realmente muito comum, só não concordo. Muito pretensioso e preconceituoso chamar de "acultural" aquele que tem um gosto musical diverso do seu.

    2° "mas citei porque tenho o discernimento o suficiente pra saber que se trata de música de qualidade e de uma representação de nossa cultura." Péssimo comentário. Na mesma linha preconceituosa do primeiro. Agora você que determina o que é de qualidade e o que é cultura? Bem típico de uma juventude pseudo-intelectual-alternativa. Voltando ao século passado novamente, me lembra a escala dos evolucionistas.Num extremo MPB, Pop-Rock, Samba de Raíz e tudo mais que você JULGA como cultura, no outro extremo "Pagod'Art, Aviões do Forró, Calcinha Preta, Black Style e Cia". E os tapado feirenses tem que "evoluir" nessa escala. Quanta presunção...

    3° Antes de me perguntar se "Pagod'Art, Aviões do Forró, Calcinha Preta, Black Style e Cia" é cultura, pesquise um pouco sobre o significado da palavra cultura. Recomendo Roque Laraia com "Cultura, um conceito antropológico". Quem sabe você clarifique um pouco seus conceitos. Fins mercadológicos... e o que não tem? A banda que você não gosta, O Rappa?

    Acho quem tá "fu" aqui ou é tapado aqui não sou. eu.

    Sem mais.

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  8. "Muito pretensioso e preconceituoso chamar de "acultural" aquele que tem um gosto musical diverso do seu."

    Será que vou ter que desenhar pra tu entender que não estou defendendo meu gosto musical?

    "Agora você que determina o que é de qualidade e o que é cultura? Bem típico de uma juventude pseudo-intelectual-alternativa. Voltando ao século passado novamente, me lembra a escala dos evolucionistas.Num extremo MPB, Pop-Rock, Samba de Raíz e tudo mais que você JULGA como cultura, no outro extremo "Pagod'Art, Aviões do Forró, Calcinha Preta, Black Style e Cia". E os tapado feirenses tem que "evoluir" nessa escala. Quanta presunção..."

    Esse comentário foi digno de pena. Leia novamente os teóricos evolucionistas, como Freezer e Morgan, talvez você entenda o que eles entendem como evolucionismo antropológico.

    Olha, eu não gosto de citar autores aqui no blog, pois não se tratam de discussões de cunho acadêmico, até porque esse é um espaço plural, citar teóricos pode constranger pessoas que não são da área de conhecimento a opinar sobre o texto.
    Mas já que você citou, recomendo que leia Pierre Bourdieu e Theodor Adorno. O 1º para entender os diferentes campos de produção artística, e o 2º para compreender o sentido da presença da indústria cultural nas produções artísticas, sobretudo musical.

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  9. Como estou meio sem tempo para responder às questões, vou responder antecipadamente a possíveis questionamentos que eu imagino que virão.
    Estou discutindo o tema sob 2 prismas, no prisma da representatividade cultural e da qualidade artística. Quando falo que músicas como Black Style, Calcinha Preta, etc, não representam nossa cultura, não quero dizer que tem representatividade zero, mas sim que é uma representatividade rarefeita, fluida, e esses efeitos tem como causa principal a influência da indústria cultural. Apenas os aspectos culturais convenientes ao mercado, ao entretenimento do público, são preservadas nessas produções, são produções então voltadas para o campo do entretenimento, e não para o campo de produção de arte. Apreendendo um pouco do método relacional de Bourdieu, fazendo uma analogia com as novelas, as novelas também se aproximam muito mais do campo de produção de entretenimento do que do campo de produção artístico. Nesse sentido, a diferenciação de arte e entretenimento é fundamental e um tanto complexa, pois não existe uma divisão exata, mas sim aproximações. Pegando como exemplos, no limite, grupos como Black Style estão no campo do entretenimento, e não no campo artístico, a não ser que a pessoa ache que "esfrega a xana no asfalto" é uma representação artística e cultural. Em suma, o campo do entretenimento está muito mais preoculpado com o retorno do público do que com as reproduções simbólicas de sua cultura, ideologia, emoções, etc.
    Em relação ao prisma da qualidade da produção, ai já é uma tomada de posição individual mesmo, a meu ver existe qualidade até no campo do entretenimento, e de forma alguma enxergo essas músicas vazias, machistas e de pornografia gratuita como algo de qualidade.
    Nesse sentido, quando digo que o povo de feira é tapado (esse termo foi com intuito provocativo mesmo), falo em relação à falta de espaço para o campo artístico aqui em Feira, falta de espaço ao teatro, música, dentre outras representações.

    Esse pequeno texto creio que abarca boa parte das dúvidas e questionamentos nesse aspecto.
    Nesse sentido, questões repetidas não serão mais respondidas, principalmente coisas do tipo "Você está impondo seu gosto" ou "Está impondo seu conceito de cultura". Serão respondidas apenas questões com pertinência ao debate que está em desenvolvimento.

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