terça-feira, 1 de março de 2011

A decadência do Axé Music!


Definitivamente Axé não é a música que compõe os arquivos de meu MP4. No entanto, não curtir não significa odiar, repudiar, e muito menos impede que eu faça uma análise racional do estilo musical.

As origens do axé estão na década de 1950, quando Dodô e Osmar começaram a tocar o frevo pernambucano em rudimentares guitarras elétricas (batizadas de guitarras baianas) em cima de uma Fobica. Foi o ponta pé para o desenvolvimento de um estilo peculiar, que com a influência de outras vertentes, como forró, maracatu, reggae e calipso, se consolidou por volta do início da década de 80.

Escrevi um texto aqui no blog falando sobre a síndrome saudosista, que fala da mania das pessoas de hiper-valorizar o que é antigo. Mas como falo no inicio do texto, em alguns setores a música tem piorado, e um deles é o Axé Music.

Em 1º lugar vamos colocar os pingos nos “Is”, Axé é música de carnaval, produzida para entretenimento do público, foi um estilo que se desenvolveu juntamente com o carnaval, não dá para separar o Axé do evento. Então menos forçação de barra ao analisar o Axé enquanto música, ok?

Porém, até para entretenimento existe qualidade, e o que tenho observado ao longo de minha vida é uma decadência grande do estilo. Essa depreciação não é recente, já está em curso desde 15 ou 20 anos atrás. Quando era criança, lembro das músicas que eram tocadas no carnaval de Salvador, no geral costumavam ter muito mais qualidade. Claro que haviam as músicas bobas, como “Nega do cabelo duro” e Cia, mas existiam músicas com um nível maior de qualidade, que representavam de forma bastante significativa a baianidade, as peculiaridades da Bahia. As músicas tinham “cheiro” da Bahia. Isso sem falar da estética, tinham melodias muito mais apuradas e letras mais poéticas e de melhor nível.

Isso com certeza é surpreendente para algumas pessoas, sobretudo as mais novas, mas essa música abaixo é do Chiclete com Banana, com autoria também de Bel Marques, intitulada "Que força é essa?".



Agora me respondam se nos dias atuais se produz Axé desse nível, ou próximo disso. E para mostrar que a música acima não foi algo residual, ai vão links de outros exemplos de boas músicas daquela época.

http://www.youtube.com/watch?v=QEm3kExTVcs&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Cq5b8VSBZjs
http://www.youtube.com/watch?v=vG2PtDvHDe4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=husQU3dRj7Y&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=AH5f0vnmiTQ&feature=fvwrel
http://www.youtube.com/watch?v=u8iXbbJQymk&feature=related

Porque o Axé tem piorado tanto? Hoje em dia observo as músicas tocadas, bandas bisonhas como Asa de Águia fazem o maior sucesso, Chiclete com Banana está longe de ser o que foi na de´cada de 80. Músicas como Dalila são destaque no evento, e por ai vai. Pra mim isso é resultado da mercantilização cada vez maior do carnaval de Salvador. De todos, é o carnaval que tem a representação cultural mais fluida, diferente de outros, como Rio e Olinda, que mantém as tradições há tantos anos. O carnaval de Salvador é muito mais voltado para o turista do que para o próprio baiano, o resultado é a perda da identidade do evento. Hoje diversos outros estilos musicais tocam no carnaval de Salvador: sertanejo, pop, rock, até a música clássica já “ousou” subir no trio elétrico.

Acho que infelizmente é um processo irreversível, levar o carnaval de volta às suas raízes pelo “chicote” é algo que mexe com muitos interesses e até mesmo com o gosto do público. Agora é aturar as Dalilas que virão a cada ano, e curtir do jeito que dá, a final, nem tudo está perdido ainda, mas do jeito que vai nossos netos poderão estar escutando samples ao invés das batidas do Olodum.

É isso, se leu clique em uma das reações ou comente!

6 comentários:

  1. Iai Rafael,
    Você foi muito feliz quando falou em mercatilização do carnaval.Na realidade o Axé se tornou MPB (Música pra pular brasileira), por isso falar em letras é complicado pq geralmente musicas carnavalescas desde antes não costumam ser muito poéticas, é só verificar as letras das marchinhas por exemplo. Poderia explicar isso de outra forma também: com o declínio da insdustria fonográfica parece-me q os artistas de axé não stão muito preocupados com vendas de cd's mas sim com letras que garantam a diversão da galera nas ruas, pois ai sim, a rentabilidade é estupidamente superior. Bandas como chicletão, Asa, Ivete, possuem seguidores q s fazem presente em todas as micaretas nas mais diversas localidades, ou seja, é melhor ter um consumidor fiel de bloco do que de cd's.
    Concordo também quando vc diz sobre a originalidade, mas há de convir que ela foi alterada de forma proposital pois o carnaval da Bahia é "exportado" para praticamente todos os estados do Brasil através das micaretas, como explanei anteriormente, o q não acontece com os outros carnavais que s limitam apenas a sua tradição e morre por ali mesmo. A abertura do carnaval baiano para outros estilos musicais é jogada também, tem-se de tudo do forró, axé, pagode, samba, rock, pop, tecno, etc a intensão ai é atrair público de todos os gostos e de todos os lugares. Fico imaginando como deve ser o carnaval de Olinda por exemplo: durante quase 10 dias escutar só um estilo musical, ou por exemplo no Rio, ficar num sambadromo escutando o mesmo samba initerruptamente 1h e 20min, deve ser duro!!! Diante disto as bandas baianas tocam o ano inteiro e faturam e muito com os eventos produzidos.

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  2. "Fico imaginando como deve ser o carnaval de Olinda por exemplo: durante quase 10 dias escutar só um estilo musical, ou por exemplo no Rio, ficar num sambadromo escutando o mesmo samba initerruptamente 1h e 20min, deve ser duro!!!"

    Discordo desse trecho ... pra mim dizer que um estilo precisa estar misturado com outros para se poder digerir é a declaração de que o estilo é chato. Diversos festivais de rock ocorrem no mundo todo, quem gosta vai e não fica pedindo outros estilos, geralmente se enjoa de um estilo quando ele é muito quadrado, e se vc acha quadrado no fundo vc acha chato. Eu por exemplo só gosto de samba misturado com outras coisas, pq no fundo acho o samba quadrado.

    Outra coisa, a Bahia exporta músicas para micareta do outros lugares pq a música baiana perde sua identidade a cada dia, e é a menos enraizada culturalmente. O frevo pernambucano não tem muita graça pra a gente que é de outro estado, mas vc olha na TV, o povo lota as ruas em todos os dias de festa. O estranhamento que causa (para os de fora) essa simpatia do povo de lá pelo frevo é um forte sintoma do enraizamento cultural produzido no carnaval de lá.

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  3. Não acho quadrado não, quando eu falei isso m referia q não conseguiria (EU)escutar varios dias só frevo e não conseguiria escutar por mais de uma hora a mesma musica num sambodromo, é o mesmo q vc scutar a mesma musica de rock por mai de uma hora initerrupta. Há tb festivais de axé como por exemplo o Axé Brasil q acontece em Minas e todo ano é casa cheia. É lógico q existem como em qualquer outro ritmo músicas q não dá pra escutar de tão tosca.
    Na realidade no carnaval da Bahia sempre houve uma miscelanea musical muito grande como por exemplo, o samba de roda, o pagode, o próprio axé, o samba reggae, os afoxés, o frevo, ou seja, nunca houve uma predominância de um único ritmo e o discurso a ser sustentado é justmente a democracia musical, hoje ela continua se justificando com a inclusão de outros ritmos tb como o sertanejo, o funk, o rock, dentre outros. O axé mesmo é relativamente novo, surgiu na década de 80 com Luis Caldas. E o q é mais interessante, a essencia do carnaval da Bahia, historicamente falando, está nos blocos afros q ainda hj desfilam mantendo viva uma tradição.

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  4. Eu até concordo com a parte de q escutar uma música só durante uma hora é chato, mas em relação ao estilo não concordo. Se a pessoa ñ consegue passar uma noite toda escutando um determinado estilo, é pq no fundo ñ gosta tanto dele. Eu posso ficar uma semana num festival de Heavy Metal, desde q tenha bandas de alto nível. Posso citar o exemplo do Blues tb, eu gosto de Blues, mas ñ tanto quanto alternativo ou heavy metal, então eu ñ conseguiria passar uma noite inteira escutando várias bandas de blues.
    O povo de Olinda lota todos os dias o carnaval pq eles adoram frevo, então pode botar o ano inteiro q eles tão lá.

    ENfim ... ñ acho q o Axé precisava se misturar a nada, e essa mistura é somente para atrair mais turistas pra esse carnaval, que pode até ser o mais dinâmico, mas tb é o mais excludente e mais privatizado.

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    1. creio que a música peculiar do carnaval carioca, o samba-enredo, só pode ser analisada e julgada criticamente dentro de um contexto específico, ou seja, como parte integrante de um espetáculo multi-disciplinar, que envolve aspectos cênicos, coreográficos, etc. É claro que, em âmbito estritamente musical, a qualidade do gênero também sofreu uma queda considerável a partir de meados dos anos 70, quando os aspectos visuais do carnaval carioca passaram a ter uma importância imensa, colocando a música em segundo plano, mas ainda assim creio que o samba de enredo não pode ser comparado com a axé music, porque ninguém em sâ consciência sentaria na sua poltrona preferida, colocaria seus fones de ouvido, e ficaria 80 minutos ouvindo um samba-enredo, já que este dever ser apreciado - ou não - em conjunto com os demais elementos do espetáculo. de mais a mais, mesmo que uma banda de axé toque 20 músicas em 80 minutos, para mim elas soarão exatamente iguais, dada a repetição de harmonias, linhas melódicas, fora a indigência mental das letras...forte abraço!!

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  5. Concordo que a festa se tornou excludente e cada vez mais privada.
    Para pronlongar um pouco mais nosso debate dê uma saque na postagem dessa semana do blog história por imagem: (http://historiaporimagem.blogspot.com/)
    Quanta coisa mudou nos últimos 30 anos de Carnaval.
    Forte abraço !!!
    Hermes Júnior

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