sábado, 18 de fevereiro de 2012

A festa das vadias


É Carnaval! Estamos no período do ano em que a moralidade pede licença para tomar uma cervejinha. É a festa legitimadora da pornografia, mulher pelada vira nu artístico, e promiscuidade vira curtição. Me refiro a moralidade não tomando a posição de quem defende a “moral” puritana e os “bons costumes” conservadores, mas no sentido da mesma moral que é pregada por nossa sociedade o resto do ano inteiro, e que no carnaval é um tanto deixada de lado. Não dá para falar desse assunto sem lembrar a declaração do baixista da banda de rock Queens of The Stone Age, que tentou tocar pelado no Rock in Rio de 2001, e alegou não entender o fato de ter sido impedido, pois no carnaval todos dançam pelados e não são reprimidos. Como responder isso? A solução é fazer vista grossa e dar aquela cartada de bolso, “Carnaval é Carnaval”, e isso por si só explica tudo.

Mas essa questão da putaria legitimada é ranzinzisse de minha parte para introduzir o texto, o que me incomoda de verdade nessa festa (especificamente a de Salvador) é outro tipo de putaria, aquela feita com o dinheiro público, isso em baixo de nossas fuças e com toda nossa cordialidade ignorante. O carnaval de Salvador é sem dúvida o mais escroto, não se surpreendam se inventarem uma forma de privatizar até a chamada pipoca. Acho que nem todos já pararam pra pensar que o baile de cordas e camarotes é a contradição em si, uma festa realizada em vias públicas que cobra ingresso para entrar. Nós construímos as avenidas e temos que pagar para entrar nelas nos dias da festa. E o que ganhamos com isso? Fumo! A pessoa pode argumentar dizendo que a avenida não é cedida, mas sim alugada, que a prefeitura cobra uma taxa para os trios e camarotes estarem ali. Realmente isso é verdade, mas é algo que nem merece a dignidade de ser citado frente aos valores vergonhosos que são cobrados. Para se montar um camarote a taxa cobrada é de R$ 10, 58 (fixo) + R$ 42,34 por metro quadrado. O trio elétrico paga 2,2 mil por dia, independente da expressividade do bloco. Se fomos olhar as cifras das receitas apurados, nos sentiremos as vadias mais esculachadas do mundo. O bloco Camaleão fatura somente com venda de abadás, 6,65 milhões, o Me Abraça 5,4, fora patrocínios. Os camarotes tem receitas que vão de 6,2 milhões (Nana Banana) a 14,4 milhões (Camarote Salvador). É bastante obvio que a arrecadação com as taxas não cobrem nem 1/4 do gasto que a prefeitura tem na organização do evento, despesa essa estimada em torno de 30 milhões.

Nesse sentido, para falar em termos mais claros, você cidadão baiano, paga para construir as avenidas, paga para organizar o carnaval, e é proibido de entrar na festa. Seria como o namorado de sua filha ir jantar em sua casa, comer toda sua comida, transar com sua filha em sua cama, apertar os peitinhos de sua esposa, dar um tabefe em sua cara, te chamar de trouxa e pedir o dinheiro do taxi, e você dar.

O masoquismo está lá na avenida, pessoas pagando para desfilarem em suas próprias casas, e dividindo em 12X no cartão. Mas como diria o gênio da trupe Fernando Anitelli, “Só não pode falar nada quando é baile de carnaval”. Então pra que esse discursinho sério? Vamos curtir, dar risada, nos divertir nesses 6 dias, pessoas que levam tudo a sério não curtem a vida, eles não saberão o que fazer com 14,4 milhões nos outros 359 dias do ano.

Referências:
http://www.revistabahiaemfoco.com.br/blog/archives/9902
http://sefaz-ba.jusbrasil.com.br/noticias/3025474/taxas-de-licenca-para-desfiles-de-blocos-poderao-ser-parceladas
http://www.bahianoticias.com.br/2011/imprime.php?tabela=principal_noticias&cod=34671

4 comentários:

  1. Fica então o questionamento: "De quem é a culpa? Das entidades carnavalescas ou do poder público?" Fico com a segunda opção. A miséria deste país está no poder público municipal, é lá que são escoadas as nossas riquezas com prefeitos safados, dotados de patrimônios gigantescos, incompatíveis, pelo tempo, com a realidade que ele tinha antes de entrar na vida pública. Voltando a história do carnaval, tudo isso que acabei de dizer é "exportado" da Bahia para o Brasil nas famosas micaretas que com certeza devem ter formato de tributação igual ou assemelhado ao nosso.

    Hermes
    historiaporimagem.blogspot.com

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  2. Claro, quem tem q fazer as regras é o poder público, o setor privado vai querer baixar sua despesa até quanto puder, e ñ estão errados, empresa visa o lucro e ñ a filantropia. Acho q para se manter um mínimo de decência, a prefeitura deveria cobrar taxas que pelo menos cobrisse os custos do carnaval (ou seja, 30 milhões no total arrecadado). Para se dimensionar melhor a bizarrice, o Camarote Salvador tem extensão de 1.300 m2, algo surreal, isso representa uma taxa de 55 mil paga à prefeitura, valor que frente à receita de 14,4 milhões, deve ser a menor despesa dos donos do camarote.

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