quinta-feira, 1 de maio de 2014

O dia do autoengano

Hoje é o dia do autoengano, de exaltar o trabalhador enquanto classe, como se nós estivéssemos estagnados na história. Como se o mercado de trabalho fosse como na época da revolução industrial, onde existia uma oposição clara entre trabalhadores X capitalistas, em que os patrões (capitalistas) em sua grande maioria eram sujeitos socialmente privilegiados.

O capitalismo se desenvolveu: passou por crises; se reinventou; se tornou mais racional. As fórmulas estão em constante mutação. O modo de acumulação não é mais o mesmo e, o próprio estado não tem mais o mesmo papel que outrora.

Frente a todas essas mudanças, a final, quem são os trabalhadores? Será que todo trabalhador é oprimido pelo sistema? Será que todo patrão é um privilegiado que nunca precisou arregaçar as mangas?

O mundo do trabalho está cada vez mais multifacetado e complexo, definitivamente não podemos mais nos referir ao trabalhador como algo uníssono, de necessidades e perspectivas similares. Também não podemos mais nos referir aos empregadores como sinônimo de capitalistas. A quantidade de empregos formais no Brasil hoje totaliza cerca de 48 milhões. Desse total, aproximadamente 15 milhões são oferecidos por micro e pequenas empresas, e 12 milhões pelo serviço público. Significa dizer que a maior parte dos trabalhadores não estão empregados em entidades privadas de grande porte. Ou seja, os capitalistas não são os maiores empregadores.

No mundo capitalista é difícil um sujeito sair do nada e chegar a ser um Mega Empresário, existem casos, mas são raras exceções. No entanto, é bastante comum o sujeito deixar de ser empregado para ser empreendedor. De modo geral, o micro empresário brasileiro está bem longe de ser privilegiado, e as estatísticas vão nessa direção: 48% das micro e pequenas empresas fecham as portas em 3 anos de atividade. São essas as empresas que mais empregam no país, juntamente com o estado. Em grande parte, as pequenas empresas tem como proprietários, indivíduos que trabalharam muito para conseguir essa pequena ascensão. Isso quer dizer que uma grande parte dos patrões brasileiros são também trabalhadores, e consequentemente, grande parte dos trabalhadores tem trabalhadores como patrões.

Além disso, as próprias perspectivas dos trabalhadores se tornaram bastante distintas. Hoje existe aquilo que se pode chamar de trabalhador “elitizado”, que faz parte tanto da burocracia estatal quanto do setor privado, e angaria rendimentos relativamente maiores. Executivos, gerentes, auditores fiscais, juízes, economistas, desembargadores, médicos, dentistas, acadêmicos, engenheiros, burocratas em geral, dentre outros. De modo geral, esses não compactuam com o mesmo sentimento de classe de um operário. Alguns deles inclusive nem mesmo se sentem trabalhadores, basta observar a reação de diversos professores universitários quando lhes pedem para praticar o protocolar ato de bater o ponto. É a chamada classe média.

Não faz sentido então hoje em dia enxertar um teor ideológico na palavra “trabalhador”, como se isso representasse um sentimento comum, um coro. O que vemos é que a “classe trabalhadora” está cada vez mais fragmentada, o reacionarismo não parte somente das classes dominantes, parte também de trabalhadores, que conseguiram alcançar a metade da escada e se acham superiores aos que estão lá em baixo. E nesse meio existe inclusive aqueles que fingem se importar com os que estão lá em baixo, são exatamente aqueles que se dizem comunistas e fazem greve para aumentar seu salário de 8 mil por mês, porque ele estudou, se esforçou, e 8 mil é pouco, é uma miséria, o governo tem que dar mais. Mas e o comunismo? Deixa para a mesa de bar e para o facebook ...  

Um comentário: