quinta-feira, 19 de junho de 2014

O professor da sua universidade ganha mal mesmo?

Greve de professores é algo que tem bastante respaldo na sociedade. De modo geral, o povo apoia, alegando que: “Professor ganha uma miséria nesse país!” Será mesmo? Será que todo professor ganha mal aqui?

Quem mais promove greve são os professores universitários e, curiosamente, são os que ganham melhor. Já que são eles os que mais reclamam, vamos dissecar os rendimentos dessa categoria?

Um professor mestre de faculdade pública, dedicação exclusiva, ganha hoje em torno de 7 mil bruto INICIAL. Como o ser humano é bastante conveniente, quando ele quer aumento, obviamente não irá lhe dizer o bônus de sua profissão, mas somente o ônus. Se fosse tão ruim assim ser professor universitário, os concursos não estariam tão lotados de profissionais qualificados. A verdade é que fazer parte dessa categoria tem certas regalias e, a maior delas é receber por 40 horas semanais sem trabalhar 40 horas. É só observar como é dividida a carga horária do professor. As horas dadas em sala de aula giram entre 12 e 16 horas, sendo que a maioria das faculdades estipulam 12 horas. Todo o restante (cerca de 28 horas) fica para as atividades complementares. É obvio que um professor com certo tempo de ensino, que não precisa preparar todas as aulas (pois boa parte está pronta), não trabalha 40 horas por semana, mesmo com as atividades complementares. A maior prova disso é que professores que não são dedicação exclusiva trabalham também em outras empresas. Os cursos noturnos estão lotados de professores que tem contrato de 40 horas com a faculdade + 40 horas em outro setor. Você acredita mesmo que ele trabalha 80 horas por semana?

Podemos dizer então que os 7 mil inicial para o mestre não equivalem a 40 horas, mas a cerca de 30 horas (vamos estabelecer isso como média). Então o salário do professor DE é 7 mil por 30 horas. Alguém poderia dizer: “Mas o profissional acadêmico precisa estar sempre lendo, se atualizando”. Amigo, qualquer profissional precisa se atualizar, se o engenheiro não lê nada fora do seu trabalho, ficará para trás no mercado, então não vem com essa ladainha. Contam como trabalho do professor as horas em sala de aula; preparação de aula; orientações (TCC ou projeto de pesquisa) e correção de avaliações. Alguns profissionais mais dedicados poderão chegar a uma média de 40 horas semanais, mas são exceções. Fazendo estritamente aquilo que lhe é exigido em contrato, o professor não trabalha uma média de 40 horas por semana.

Outra regalia da profissão são as 2 férias anuais, sendo uma formalizada e a outra que acaba acontecendo por conta do recesso do meio do ano. Além disso tudo, é uma profissão bastante flexível, o professor pode faltar quando precisar, tendo a possibilidade de repor depois a aula. Além disso, tem 28 horas semanais para alocar da forma que desejar.

Coisa horrorosa não é? Ganhar 7 mil pra trabalhar 30 horas por semana e de maneira flexível.

Mas se mesmo assim você acha pouco, então vamos comparar com o mercado. Abaixo vai uma lista da média salarial de outras profissões:

Medicina – 6.940,12
Engenharia civil – 4.604,41
Engenharia química – 4.549,12
Odontologia – 4.238,65
Direito – 4.104,84

Essa é uma pesquisa do IPEA, os dados são de 2010, não consegui um ranking atual. Mas não estão tão defasados, é só considerar cerca de 20% de reajuste em cada valor citado, e verás que os outros profissionais não estão bufando dinheiro. Vale ressaltar que os dados referem-se a 40 horas de trabalho por semana. Dessa forma, o que fica claro é que o professor universitário de faculdade pública só perde para médico.
Você também pode alegar que os exemplos citados acima também incluem profissionais sem mestrado. Sim, de fato, mas é bom lembrar também que os exemplos foram de profissões bem remuneradas, se quiser ver a lista completa, o link está no final do texto.

Agora que está provado por A + B que o professor da sua universidade não ganha mal, espero que a partir de hoje você pense 2 vezes antes de apoiar greves e mais greves que esse pessoal promove. Não vejo ninguém se movimentar para melhorar o ensino; cobrar do colega um maior compromisso; estabelecer mecanismos de fiscalização do corpo docente para aumentar a eficiência do professor, só vejo lutarem pelos seus próprios bolsos. Não estou falando mal da greve em si, elas foram importantes para o salário chegar no nível em que está. Mas agora que o salário está bom, é hora de dar a cara a tapa também para melhorar a qualidade do ensino. Encher o bolso foi bom, quero ver cortar na própria carne por uma educação melhor, e o primeiro passo é cobrar empenho daquele seu colega vagabundo. Vamos lá professor?

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/07/1305306-profissionais-de-medicina-tem-o-maior-salario-do-brasil-diz-ipea.shtml

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