domingo, 27 de julho de 2014

Racionalizando o chororô

Esse texto tem o intuito de racionalizar o chororô e a vitimização do torcedor brasileiro em relação a seu time de coração. 

O futebol não é somente um jogo restrito às 4 linhas, é uma competição que envolve poder político e econômico.

É perfeitamente “natural” apontar para cima quando o assunto é vitimização no futebol brasileiro, só que as pessoas esqueceram de se perguntar se seu time está na base da “cadeia alimentar”.

A máxima que diz: “Time do eixo é sempre favorecido”, não é incoerente, ela só precisa estar contextualizada. De modo geral, se recorrermos à história, perceberemos que de fato os times do eixo (Rio-SP) tendem a serem favorecidos em relação aos times dos outros estados. As maiores polêmicas de arbitragem e de tapetão favorecem times do eixo. Acontece que existe um foco quando se realiza tal afirmação.

Se eu quiser ver o mapa do Brasil no Google Maps, só conseguirei enxergar no máximo os estados. Mas se eu aproximar e quiser ver um estado específico, começarei a enxergar os municípios. O mesmo vale para as relações políticas e econômicas do nosso futebol. O eixo é beneficiado quando o foco é o campeonato nacional, quando “aproximamos a imagem”, enxergaremos os times do interior. Existe futebol no interior desse país, eu juro!

Pergunta ao torcedor do Londrina o que ele acha do Coritiba, e verás que é bem parecido com o que o Atleticano pensa do Flamengo. Se quiser que eu ajude a entender, é só ver o vídeo abaixo.


Essa polêmica foi agravada mais tarde, numa decisão de turno do estadual, em que o juiz deixou de marcar 3 toques  de mão na grande área contra o Coritiba (em um só jogo), todos 3 polêmicos.

Olha o que o torcedor do tubarão pensa sobre os times da capital.
    

Essa é só uma amostra grátis daquilo que acontece nos estaduais pelo Brasil. Aqui na Bahia, todo mundo sabe que para um time do interior vencer o Bahia da capital, precisa derrotar o time e o juiz. Os próprios torcedores mais antigos do tricolor admitem que sem a influência política e sem o apito amigo, o Bahia não teria essa grande quantidade de títulos regionais.

O leitor pode dizer: “Mas quem liga pra estadual?” O time do interior liga, e como liga! O Ituano esse ano foi campeão paulista depois de passar por cima da arbitragem tendenciosa na semifinal contra o São Paulo, e somente a premiação pelo título equivale a 8 meses de folha salarial do clube, fora os ganhos com negociação de jogadores. O problema é que aprendemos a descartar os times do interior por influência da mídia, como se eles servissem somente para encher linguiça.

Agora vamos ampliar a imagem do Google Maps, focando na América Latina, onde só enxergamos no máximo os países. A maior competição do continente é a Libertadores e, não sei exatamente qual o motivo, mas os times brasileiros sofrem muito na competição. Os brasileiros já foram garfados tantas vezes na Liberta que ninguém reclama mais. Existe uma tendência forte em beneficiar times argentinos, uruguaios e chilenos, resta saber qual a razão. Nessa competição os times brasileiros se igualam, todos são roubados. Inclusive os vilões nacionais, Flamengo e Corinthians, já foram garfados de forma histórica (Flamengo contra Cobreloa em 1981 e em 2007 contra Defensor; Corinthians em 2013 contra Boca). Além desses, outros já experimentaram o gosto amargo do apito latino, como Fluminense (o time do tapetão) em 2008.

Em suma, estamos em um país corrupto, que está inserido em um continente igualmente corrupto, em que as relações de poder estão presentes em todas as instâncias, e de forma arbitraria. A vitimização não passa de um analgésico, faz os torcedores fingirem fazer parte de uma trama, em que existem as vítimas e os vilões, quando na verdade o que existe é uma posição na “cadeia alimentar”. O oprimido em âmbito continental pode ser o opressor em âmbito nacional, e por sua vez, o oprimido em âmbito nacional pode ser o opressor regional.


Essa é a verdade, nua e crua, para quem quiser enxergar. Quem preferir, pode fingir que faz parte de uma novela, às vezes faz até bem para a saúde.

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